ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Deslimites do pensamento: provocações bressaneanas à teoria do cinema |
|
Autor | Lennon Pereira Macedo |
|
Resumo Expandido | Este trabalho é expressão de uma tese em andamento que busca construir um conceito de conversação cinematográfica na transversalidade entre o construcionismo de Gilles Deleuze e Félix Guattari, a intersemiótica de orientação pragmática de Haroldo de Campos e Décio Pignatari e o pensamento de Júlio Bressane, tal como expresso em suas obras escritas e filmadas, que aqui sintetizamos sob o conceito de deslimite. Deleuze e Guattari (1992) afirmam que uma ideia em cinema é sempre um acontecimento raro, desde a perspectiva de sua incorporeidade. Toda ideia está sempre já destinada a certo domínio, efetuando-se como uma singularidade na relação com um dado modo de expressão. A construção de um conceito ocorre na vizinhança de componentes, e tais componentes podem ser outros conceitos, outras ideias teóricas, mas podem ser também blocos de movimento ou duração extraídos de filmes. Daí que se desenhe um estilo transversal do conceito a partir da ideia de deslimite de Júlio Bressane (1996) e suas consecutivas provocações intersemióticas. Em seus escritos, Bressane (2000, p. 67) repete inúmeras vezes o refrão de Abel Gance: “O cinema é a música da luz, é uma afirmação inspirada e de grande penetração mental. Qualquer afirmação sobre a arte do filme, sem esta afirmação, é uma afirmação sem afirmação...” A partir de Gance e de seu par brasileiro, Mário Peixoto, desenha-se o deslimite, brincadeira-homenagem com o filme deste, Limite (1930), pela sua inventividade de formas, invenção de traduções entre artes (a pintura, a música, a poesia) e invenção de Brasil, de um cinema brasileiro experimental. O deslimite deseja justo o ponto de indiscernibilidade da expressão, configurando uma operação cinematográfica que aposta na reversibilidade dos modos artísticos e nos signos de uma heautonomia em que o verbal devém sonoro, o som devém visão, o visual devém verbo... uma perspectiva propriamente intersemiótica do cinema. Júlio Bressane tem evidente herança concretista e boa parte dos problemas que reivindica para si são de natureza tradutória e intersemiótica. Permeia Bressane (1996, 2000, 2005, 2011) em seus textos uma fragmentária arqueologia de modos de misturar signo, na arte rupestre que incide na poesia visual de Edgard Braga, na tradução da bíblia realizada por São Jerônimo, na música de Vassourinha e nos sermões do Pe. António Vieira, na leitura de Pignatari (2004) do Memórias póstumas de Brás Cubas... toda uma sorte de parcerias tradutoras, atarefadas em compor uma sensação que force os limites dos domínios expressivos. Daí a importância de traçar a genealogia do conceito de deslimite a partir de suas heranças, marcadamente quatro delas: o barroco como força de transbordamento de formas extraído dos sermões de Vieira e sistematizado por Haroldo de Campos (2006) e Néstor Perlongher (2021); as relações entre imagem e palavra do Brás Cubas machadiano e os comentários subsequentes de Décio Pignatari; a intersemiótica concretista e a importância da tradução como transcriação, desde os manifestos da poesia concreta até trabalhos posteriores de Haroldo e Décio; o experimentalismo no primeiro cinema brasileiro, em especial o vanguardismo de Limite, de Mário Peixoto. Nos guiamos, portanto, pelo seguinte problema de pesquisa: Como uma teoria de cinema de inspiração deleuzeana se vê provocada pelos escritos de Júlio Bressane, em especial de seu deslimite, conceito-sensação que acelera as misturas de signos e põe dois distintos modos do pensamento, a teoria e a arte, em contínua reversibilidade, de maneira a tornar indiscernível onde termina o conceito e começa a sensação? Metodologicamente, traçamos uma leitura interessada dos textos de Bressane e Deleuze e Guattari com fins de entender como o deslimite complica a relação entre as formas do cinema e as formas da filosofia, bem como o fichamento de alguns filmes em que a problemática do deslimite se destaca nas conversações, notadamente Brás Cubas (1985), O mandarim (1995) e Filme de amor (2003). |
|
Bibliografia | BRESSANE, J. Alguns. Rio de Janeiro: Imago, 1996. |