ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Outra História do Cinema |
|
Autor | YANET AGUILERA VIRUEZ FRANKLIN DE MATOS |
|
Resumo Expandido | Muito se especulou sobre o fim do cinema depois da publicação do livro de André Gaudreault e Philippe Marion, como também são conhecidas as implicações desta afirmação em termos de mudanças tecnológicas e lugares de exibição. O surpreendente é que essa perspectiva não se transformou numa reflexão sobre a história do cinema. Será que a dobradinha feita por Arthur Danto e Hans Belting com relação à arte não se aplicaria ao cinema? O fim do cinema não implicaria pensar um fim da história do cinema, como uma maneira de problematizar a questão da narrativa histórica? Não podemos ficar satisfeitos apenas com o fato de o cinema ter sido aceito como fonte histórica à Ferro, mesmo porque pouquíssimo é realizado a este respeito, pois, a nosso ver, os filmes ainda são usados, em geral, como ilustração – não muito adequada – dos textos históricos. Tampouco podemos simplesmente aceitar uma história formalista ou dos estilos à Bordwell ou à Baecque, já que esta foi formulada como um percurso em que os estudos cinematográficos se institucionalizaram e o cinema alcançava um consagrado lugar na história da arte. Não devemos nos contentar com as sobras do grande jantar da história, mesmo porque nós, afro-ameríndios, somos canibais. Antes de mais nada, devemos nos perguntar de qual história da arte queremos participar? Aquela que Belting afirma não se sustentar mais enquanto narrativa? Aquela que tem como fundamento um discurso acadêmico que satisfaz apenas a si mesmo e que é alheio a um mundo em transformação? Narrativa histórica insuficiente porque tem um objeto, o cinema, cujo discurso ultrapassa o cenário acadêmico. Do ponto de vista da relação entre cinema e história, os estudos cinematográficos enfrentam uma complexidade até agora encarada de modo sério apenas eventualmente. A falta de questionamentos da própria disciplina torna-se ainda mais aguda se deixamos de lado a ideia de uma história universal e cronológica, como é exigido atualmente se quisermos ser rigorosamente consequentes. Correu muita tinta (metáfora?) para nos afastar da maneira como parte do século XIX ocidental nos ensinou a entender e construir a história. E como não é possível uma história universal, devemos nos jogar nesse abismo que separa a história que nos contam e a que gostaríamos, melhor, precisaríamos contar sobre nós mesmos. Talvez a nossa luta não seja reivindicar um lugar ao sol, dentro de um espaço que determina para quem, como, quando e o quê vai se destacar. Devemos enxergar nessa história da recepção que os estudiosos de cinema construímos algo além do jogo da bolsa de valores, no sentido dado por Nabil Araújo. Talvez devêssemos assumir radicalmente que a experiência histórica que vivenciamos são fragmentos que sempre serão esparsos e que sequer formam constelações. No lugar da linha imaginária barroca benjaminiana que trabalha o claro e escuro por meio dos brilhos das estrelas vizinhas com nomes especiais, colocar o barroco penumbrista. Na escuridão da pintura da América Latina da horrível época da colônia, ou no lusco-fusco de Bartolomé Esteban Murillo, aprendemos a tatear aquilo que mal conseguimos enxergar. À figura do anjo de Klee benjaminiano antepõe-se, para nós que vivemos no Brasil, o anjo torto de Carlos Drummond de Andrade, que vive nas sombras e que nos lança para ser gauche na vida. A proposta é analisar uma sequência de três filmes e uma performance filmada: O Descobrimento do Brasil, de 1936, de Humberto Mauro; Terra em Transe, de 1967, de Glauber Rocha; O Rei do Baralho, de 1974, de Júlio Bressane; e Me Gritaron Negra, de 1960, performance de Victória Eugenia Santa Cruz, filmada por um anônimo (a escolha de uma performance é intencional para ir além do recorte purista moderno de pensar o cinema |
|
Bibliografia | BAECQUE, Antoine. L’histoire-Caméra. Paris, Gallimard, 2008. |