ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Ocupação Sonora: o MST é um estrondo! |
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Autor | camila machado garcia de lima |
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Resumo Expandido | O projeto Ocupação Sonora realiza uma pesquisa junto com o Movimento Sem Terra do DF. O objetivo é a formação de um acervo sonoro nas terras ocupadas, com a aposta de que a luta política da ocupação transforma os territórios em diversos aspectos, entre eles os sociais, demográficos, econômicos, políticos, agrícolas e também sônicos. A metodologia do projeto é criar zonas de percepção e criações artísticas coletivas, em modelo de residências artísticas, oficinas, conversas e imersão nos territórios, instalações e experimentações sonoras. A pesquisa ainda se encontra em andamento e foram iniciadas as gravações de campo. Essas gravações fazem parte da proposta de aproximação e escuta no território. “ Poderia o som ser usado como uma arma por meio de tonalidades específicas e de vibrações coletivas, de um ativismo de escuta e da força do volume, para apoiar uma cultura do cuidado radical e da compaixão.” (LABELLE, 2022,p. 27) A pluralidade de sons emitidos, escutados e produzidos na relação das pessoas, humanas e inumanas, animais e o território pode ser formada por sons estrondosos e que se relacionam com a macropolítica das ações de ocupação do MST, como também dos sons da micropolítica das relações sonoras do cotidiano. Existem sons do confronto direto, dessa fronteira de vizinhos que a ocupação força o convívio. De início, já podemos imaginar que os sons do confronto são muitas vezes desiguais, os latifundiários possuem armas e máquinas potentes e os militantes do MST o que têm é a quantidade de pessoas no uníssono: “O MST quando ocupa é um estrondo. Chega com cantos, hinos, fogos, mística. ” Essa potência sonora que alcança espaços mais distantes e anima o grupo com a intensidade da luta tem sua origem no confronto e na disputa sonora. Nesses momentos, o MST precisa se fazer ouvir, precisa juntar em coro todos seus militantes acampados e, coletivamente, cantar juntos seus hinos, palavras de ordem e cantos. O canto coletivo reforça a potência. Segundo Taborda, “a ação sincronizada de corpos implica, por um lado, o reforço de laços horizontais entre eles, como na sensação calorosa de cantar em uníssono com outros, de corpos dançando ou de músicos tocando em sincronismo” (TABORDA, 2021, p. 85). À sonoridade estrondosa do conflito, da coletividade, devemos somar a do cotidiano, que é formado por uma política da construção das relações pessoais e com o território. Essa sonoridade se dá no dia a dia das plantações como também nas reuniões de base do movimento, na vizinhança, nos sussuros e nos sons entreouvidos (LABELLE). Um som que se destaca é o de animais que antes estavam encurralados e afastados pela monocultura e agrotóxicos. Dona Gil comentou que de “uns quatro anos para cá muita variedade de pássaros passou a visitar o assentamento.” A frase dela entra em coro com outras assentadas. Outra frase muito comum escutada nos territórios é: “aqui antes só tinha braquiara, muito pouca vida, só o silêncio da ausência da vida.” Segundo Taborda, em uma localidade saudável se escuta toda a variedade do espectro dinâmico e frequencial (TABORDA). Nesse caso, as atividades da ocupação do MST retomam os aspectos saudáveis de um território e ainda acrescentam os aspectos humanos. Por fim, o projeto pretende desenvolver essas questões a partir das gravações de campo, como também de proposições artísticas que se permitem imaginar um som porvir. Ou um povo porvir. Ou uma sociedade porvir proposta por esse povo que se movimenta soando. Assim, ao refletir sobre o silenciamento e criminalizações que o movimento sofre, a agência sonora desponta justamente para remodelar éticas de escuta e de amplificação de vocês, sejam elas humanas ou não humanas. |
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Bibliografia | FELD, Steven. Sound and Sentiment: birds, weeping, poetics and song in Kaluli expression. |