ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O cinema de Adélia Sampaio no contexto da Ditadura Militar no Brasil |
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Autor | Catarina Silva Bijotti |
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Resumo Expandido | Após anos apagada da História do Cinema Brasileiro, Adélia Sampaio foi reconhecida por Edileuza Penha de Souza (2013) como a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, em 1984. O filme “Amor Maldito” trata de um relacionamento entre duas mulheres e os preconceitos que elas sofrem da sociedade brasileira. Após Sueli (Wilma Dias) cometer suicídio no apartamento da ex-namorada, Fernanda (Monique Lafond), esta vai a julgamento acusada de homicídio. O tribunal, entretanto, parece mais interessado em julgar o relacionamento entre duas mulheres do que o possível crime, incluindo a própria família de Sueli, liderada por seu pai, um pastor evangélico, que condena a relação das duas. O longa foi realizado em regime de cooperativa e enfrentou diversos osbstáculos até chegar aos cinemas. Sampaio conta que teve o financiamento recusado pela Embrafilme (BRASIL, 2016), e não recebeu apoio financeiro para legendar o filme em inglês e mandá-lo para o maior festival LGBTQIA+ de cinema até então, o Lesbian Gay Fetival, em São Francisco, o qual ela foi convidada. Em seu lugar a Embrafilme enviou “Asa Branca: um sonho brasileiro” (Djalma Limongi Batista, 1981) que, ao contrário do filme de Sampaio, não tem a homossexualidade como tema central da obra, ela é apenas implícita. Outro obstáculo do longa-metragem foi o seu lançamento. Mais especificamente o seu lançamento em São Paulo, onde o exibidor sugeriu vender o filme como pornográfico para atrair mais público (BIJOTTI, 2022). Apesar disso, o filme não se encaixa de maneira alguma no gênero. Sua única cena erótica é uma cena onírica em que as duas personagens tomam banho juntas e seus corpos aparecem nus. Tal cena, aliás, sugere a intimidade sexual entre as duas personagens, mas de forma oposta de como o sexo era tratado no cinema no período. O cinema de pornochanchada e, posteriormente, o cinema pornográfico inseriu em sua narrativa relacionamentos entre mulheres, mas sem levantar discussão alguma sobre os preconceitos que os casais lésbicos sofriam no período, como sugere a crítica de Cakoff (1984) e o artigo de Cavalcante (2017). O relacionamento de duas mulheres visava apenas o prazer do olhar masculino em cenas eróticas. Sampaio se torna também uma pioneira por trazer essa discussão social que era restrita no período. E tal reconhecimento não ficou apenas para os pesquisadores do presente. Durante a produção de “Amor Maldito”, o jornalista Ailton Assis, ao falar sobre o filme que viria a ser lançado trata da cineasta como uma desbravadora: “O filme tem o mérito de derrubar vários estereótipos comuns no cinema brasileiro, o que já se constitui quase uma marca registrada de Adélia” (ASSIS, 1983). Assis se refere aos trabalhos anteriores da cineasta na direção e na produção. Em especial destaco o longa-metragem “Parceiros da aventura” (José Medeiros, 1979), filme que tem um elenco de maioria negra, e o curta-metragem “Adulto não brinca” (Adélia Sampaio, 1980), que faz uma crítica ao comportamento de policiais e foi censurado em seu lançamento. O olhar de Sampaio presente nos filmes é importante quando lembramos que ela foi, por décadas, a única mulher negra a dirigir um longa no Brasil. Além disso, não era de classe alta como alguns diretores do período. A diversidade no cinema é importante para criar diferentes ideias, visões e estéticas, além de criar uma conexão com um certo público que certas vezes não se sente representado, fato bem evidenciado por hooks. Em seu texto “O olhar opositor: mulheres negras espectadoras” (2019), bell hooks cita a falta de conexão entre as mulheres negras e o cinema hollywoodiano por este, na época, apenas afirmar a supremacia branca, não dando espaço para mulheres negras se conectarem com histórias ou personagens na tela. Este painel tem, portanto, o objetivo de evidenciar a transgressão de Sampaio no cinema brasileiro e sua abordagem de temas sociais e crítica à moralidade defendida pelo governo militar presentes em suas obras. |
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Bibliografia | ASSIS, Ailton. Amor Maldito, hora e vez do sexo frágil. Tribuna da Imprensa. 06/05/1983. |