ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Fôlego Vivo (2021) e o cinema indígenas como narrativa de si |
|
Autor | Roseane Monteiro Virginio |
|
Coautor | Naiara Leonardo Araujo |
|
Resumo Expandido | O presente artigo busca refletir como, por meio da produção cinematográfica Fôlego Vivo (2021), de Juma Jandaia e da análise de suas imagens, o povo kariri constrói espaços de resistência, memórias e narrativas de si. Fôlego Vivo é um curta documental e performático produzido em coletivo pela Associação dos Índios Cariris do Poço Dantas-Umari ( habitantes da Chapada do Araripe, zona rural do município de Crato, distante aproximadamente 503 km da capital Fortaleza), que se utiliza de um cinema contra-hegemônico, fora do circuito de salas comerciais de exibição, ou seja, são produções fílmicas que circulam em festivais, mostras e/ou disponíveis no Vimeo e no Youtube. Estamos falando, portanto, de um cinema indígena, em contraposição àquele cinema que fala sobre indígenas - que costumeiramente produziu estereótipos e alimentou no imaginário popular uma narrativa construída por décadas de que se tratava de povos extintos. Essa virada de fato se dá quando os indígenas deixam de ser representados pelo o “outro” e passam a assumir a direção, o roteiro, a produção e a operação de câmera, vide o projeto no Brasil iniciado na década de 1980, o Vídeo nas Aldeias (ARAÚJO, 2015; NUNES, 2022). Essa formação em linguagem e técnicas de audiovisual apontam para uma nova forma de pensar, narrar e ver cinema. Sendo assim, os indígenas têm o controle de sua perspectiva para se representar como protagonistas de suas histórias, de suas cosmogonias e visões de mundo (SCHULER; ZEA, 2017), mas também como campo de conflitos, no qual o audiovisual se constitui como importante ferramenta. Nesse sentido, Juma Jandaia e o coletivo manipulam as tecnologias a seu favor e subverte o lugar do indígena na sociedade, ainda que a tensão se apresente em várias sequências. Por exemplo, o povo kariri, ao caminhar pela cidade, causa ao mesmo tempo desconforto e surpresa, tanto por estarem naquele espaço (existindo) quanto pela maneira que se apresentam. É nesse campo de disputa de imagens, narrativas e de representações que o embate se apresenta, em Fôlego Vivo, através da invasão de seu território para a transposição do rio São Francisco. Pois assim como Ailton Krenak (2019) afirma - ao mesmo tempo que critica na sociedade capitalista -, o filme produz imagens na qual os povos originários não conseguem se enxergar separados de suas terras - a destruição de suas paisagens são sentidas como a destruição de si próprio. Assim, no presente artigo traçamos um percurso de análise das imagens fílmicas para, em seguida, confrontá-las com o contexto sócio-político, que se apresenta na narrativa e fora dela. Palavras-chaves: cinema indígena; kariri; documentário. |
|
Bibliografia | ARAÚJO, Juliano José de. Cineastas indígenas, documentário e autoetnografia : um estudo do projeto Vídeo nas Aldeias. Campinas, São Paulo, 2015. 270f.: Tese (Pós-graduação em Multimeios) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2015. |