ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Andrea Ormond leitora de Walter Hugo Khouri: a crítica como descoberta |
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Autor | Rafael Oliveira Carvalho |
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Resumo Expandido | Ainda que reconhecido como um dos mais importantes cineastas brasileiros de sua geração, Walter Hugo Khouri permanece como um diretor pouco estudado e de obra ignorada por muitos. Noite vazia (1964) talvez seja seu filme mais conhecido e celebrado, além da polêmica em torno de Amor estranho amor (1982), após Xuxa Meneghel ter mandado retirar de circulação as cópias do filme, ter ajudado a transformá-lo em peça de culto, por muitos anos tendo sua exibição proibida por ordem judicial. Circulava clandestinamente uma cópia VHS com péssima qualidade de imagem e som, oportunamente digitalizada e difundida pelos rincões da internet. O episódio ajudou a eclipsar a carreira do cineasta, além da maioria dos seus filmes permanecerem sem restauro até hoje. Khouri costuma aparecer como o autor outsider, um solitário na sua busca estético-filosófica intimista e psicológica; um patinho feio antípoda ao Cinema Novo já que o tratamento erudito e de tendências “europeias” dos seus filmes, voltados para a investigação da vida e dos vícios burgueses, era o oposto do cinema politizado e preocupado com a realidade brasileira. Glauber Rocha (2003), ao fazer sua Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, isola o trabalho de Khouri no quadro de um cinema “formalista e universalizante” (p. 101), definindo-o como um “artista equivocado e vítima de equívocos” (p. 118), enxergando-o afastado do cinema contemporâneo e dos ideais daquela época, taxado de retrógrado e ultrapassado. Em seu Cinema de Invenção, Jairo Ferreira (2016), ainda que classificasse o diretor como “alternativo”, passava a limpo sua obra realizada até meados dos anos 1980 de modo mais generoso e compreensivo. De todo o modo, aprove-se ou não o tipo de produção que o cineasta encabeçou até o fim de sua carreira, trata-se de uma obra ainda envolta em polêmicas e considerações rasteiras, como sua aproximação com a pornochanchada e, por outro lado, a pecha de elitismo estético e temático. Pretendemos fazer um resgate aqui da obra de Khouri, partindo de certa recepção crítica feita nos anos 2000. Os textos de Andrea Ormond são, nesse sentido, fundamentais para se pensar a permanência do imaginário sobre a obra khourina no início do século XXI, pelas mãos de uma reconhecida conhecedora do cinema brasileiro. Crítica dedicada a por sob análise filmes do cinema nacional, Ormond, por muito tempo, escreveu no seu blog pessoal Estranho Encontro (criado em 2005) – nome que faz referência a um dos primeiros filmes de Khouri – uma série de textos sobre os filmes do cineasta paulista, declarando abertamente sua admiração e enorme interesse pela visão de mundo apresentada nos filmes de Walter Hugo Khouri. A presente proposta de trabalho intenta não apenas lançar luz sobre a obra khouriana, mas ainda entender a importância de um olhar crítico para revitalizar e despertar o interesse sobre a historiografia clássica do cinema brasileiro. Ormond tem desenvolvido nas últimas décadas uma escrita não apenas interessada na observação atenta e inteligente sobre o mercado nacional de cinema, mas também um estilo crítico-ensaístico capaz de revelar, com boas doses de humor e perspicácia, as nuances e idiossincrasias das obras nas suas particularidades narrativas e também no seu enquadramento histórico, ou seja, um arranjo entre o textual e o contextual. A fortuna crítica que ela produziu nas últimas décadas (também nas revistas eletrônicas Cinética e Zingu!), quase que exclusivamente sobre filmes brasileiros, faz dela um das críticas mais relevantes e de autoridade quando o assunto é o cinema nacional e seu resgate histórico. Entre 2005 e 214, Ormond escreveu textos sobre 16 dos 24 longas-metragens assinados pelo diretor, além do filme As Cariocas (1966) no qual Khouri dirige um dos quatro episódios do longa. Queremos investigar de que forma esse conjunto de textos conseguem dar conta da obra de Khouri, em quais pontos centrais ilumina-a e a amplia para além dos lugares-comuns que recaem sobre o trabalho do cineasta. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Making meaning: inference and rhetoric in the interpretation of cinema. USA: Harvard University Press, 1991. |