ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O Melodrama de Aruanas: Transformações e Reiterações |
|
Autor | Pedro Notariano Belizário |
|
Resumo Expandido | Este trabalho irá analisar a série “Aruanas” (Original Globoplay, 2019) como parte da ficção seriada brasileira que “acompanha um movimento de desterritorialização da produção e do consumo sob a condição de combinar o melodrama e os traços identificadores das narrativas nacionais às novas possibilidades tecnológicas” (LOPES, LEMOS, 2020, p. 114). Dessa forma, plataformas de streaming como a Globoplay fazem com que as narrativas melodramáticas, as quais possuem grande identificação com o público brasileiro, sejam reconfiguradas em novos formatos de series complexas (MITTEL, 2015). Nesse sentido, Aruanas possui formações estruturais que se apropriam de diversas características das matrizes melodramáticas, ao mesmo tempo em que a transposição do melodrama para novos formatos de séries produzidas para o streaming tem como consequência a reformulação de algumas de suas características. Aruanas é uma série com uma temática de ativismo socioambiental, com arco principal voltado para causas ambientais e a proteção da floresta amazônica. A primeira temporada percorre as investigações de um grupo de ambientalistas sobre o garimpo ilegal, desmatamento da floresta e contaminação das águas dos rios provocados por uma empresa de mineração em Cari (AM). Mas, além disso, outras temáticas sociais como a prostituição infantil, precariedade do trabalho e massacre de povos indígenas também compõem alguns de seus subtemas. Por isso, Aruanas pode ser entendida como uma série com imbricações de gêneros como o drama social, investigativo e suspense. Com essa mistura de gêneros “o melodrama tem seu sentido expandido, passando a integrar séries e outros formatos que trazem possibilidades mais fluidas de identificação” (LOPES, LEMOS, 2020, p. 110). Nesse sentido, busca-se investigar de que maneira Aruanas se apropria ou transforma as características do melodrama. Em relação à tradição das matrizes melodramáticas, será abordada a polarização entre bem e mal (HUPPES, 2000), a manutenção do didatismo e da ação pedagógica, além do caráter moralizante da trama (BROOKS, 1995). Outra característica comumente associada ao melodrama são seus personagens sem ambivalências, contradições ou dimensões, agindo de maneira unidirecional. No entanto, o formato das séries complexas pressupõe a existência de personagens complexos: “Os personagens, portanto, precisam ter diversas camadas, que vão sendo reveladas aos poucos durante a série. Para gerar histórias, eles também possuem conflitos em diversos níveis” (CANTORE, PAIVA, 2021; p. 102). Por isso, ao se transpor o melodrama para o formato de séries complexas como Aruanas, percebe-se a construção de personagens com conflitos internos, contradições e ambivalências que será abordado como um caráter de transformação das matrizes melodramáticas. Também associado ao melodrama é sua estrutura narrativa inverossímil que abandona a lógica linear dos acontecimentos. “Como as situações dramáticas não são complexas e não há apreço pela unidade dramática, os personagens são apenas veículos da expressão moral, antenas de concentração da emoção do espectador”. (SARAIVA, CANNITO, 2004, p. 87). Esse exagero da trama geralmente é visto por parte dos estudos de roteiro como uma falha estrutural da narrativa, já que “o poder de um evento só pode ser tão grande quanto à soma total de suas causas. Nós sentimos que a cena é melodramática se não conseguirmos acreditar que a motivação equivale à ação” (MCKEE, 2011, p. 346). Por isso, as análises apontam para uma transformação de Aruanas em relação as matrizes melodramáticas, no uso positivo dessa inverossimilhança da trama, exagero nas complicações e coincidências implausíveis - organizadas de maneira a gerar respostas emocionais das personagens ao invés de respeitar uma lógica dos acontecimentos - de forma a potencializar uma complexidade narrativa estruturada nas “Razões afetivas” (MAJITHIA, 2015). |
|
Bibliografia | BROOKS, Peter. The melodramatic imagination. U.S.: Yale University Press, 1995. |