ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Resistência e representação cinematográfica do povo Yanomami |
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Autor | Adriano Medeiros da Rocha |
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Resumo Expandido | Refletindo sobre o papel da arte, Dandara Silva (2021) recorre às investigações de Gilles Deleuze para pensar a arte como um ato político-poético. Ela recorda que a arte é contrainformação, se opõe às sociedades de controle, se mostra contrária às relações de saber-poder e ao controle das informações. Assim, a arte é contra hegemônica – contra aquilo que está dado. Dessa maneira, a arte só é efetiva quando é concretizada por um ato de resistência, que pode ser representado pela própria criação. No caso do cinema socioambiental, essa resistência se dá por diversas maneiras, tanto pelas temáticas abordadas, mecanismos narrativos construídos e nas próprias propostas estéticas concebidas. Ao criticar e denunciar o abandono e a crise humanitária sofridos por povos originários como os Yanomami – enquanto consequência da omissão por parte do governo de Jair Messias Bolsonaro, o cinema de preocupação socioambiental está fazendo uma arte de resistência. É importante destacar que a crise ambiental ganhou formas e contornos mais impressionantes depois da chegada de Bolsonaro à Presidência da República: o governo federal fez uma verdadeira estratégia de desmonte da política ambiental e desaparelhamento de instituições e da infraestrutura de preservação do meio ambiente do país. Thaís Ferreira (2013) buscou refletir sobre o conceito de cinema ambiental. Inicialmente, ela expõe o entendimento do jornalista e historiador Beto Leão sobre o tema. Para ele, o cinema ambiental não se restringe aos filmes ecologicamente engajados, mas abrange todas as obras cinematográficas que tratam de temas com alguma leitura ambiental possível. O destaque seria para aqueles filmes que tratam de questões que envolvam a sobrevivência da humanidade e dos seres vivos em nosso planeta. O pesquisador Ismail Xavier afirma que o cinema ambiental não é uma categoria estética ou formal, mas exclusivamente temática. André Brasil e Bernard Belisário tocam em um ponto muito importante para esta pesquisa: a constituição de narrativas cinematográficas a partir da troca de conhecimentos, vivências e formulações culturais. Neste sentido, nos interessa o encontro e a imersão em obras cinematográficas que se permitam pensar o meio ambiente também a partir destas junções e mesclas, percebendo as potencialidades desses mecanismos colaborativos em maior ou menor instância. Pensando a análise da narrativa fílmica, Jesús García Jiménez (1993) apresenta três modelos: fenomenológico, estruturalista e pragmático. Dentro dessa tríade, optamos pelo último modelo, que tem como um ponto de partida a análise dos textos narrativos audiovisuais para intuir as regras que presidiriam sua construção. Assim, a maior tarefa do analista seria a de refazer o processo criativo e reviver a experiência poética da criação cinematográfica. Nele, pode-se observar a preferência pelas condições de produção do discurso e pelos efeitos de sua recriação. Em sua dimensão poética, o modelo pragmático primaria pelo sentido da liberdade criativa. Nosso objeto de análise será o filme A última floresta, de Luiz Bolognesi. A leitura do livro A queda do céu foi tão inspiradora que este cineasta resolveu fazer contato com Davi Kopenawa, a fim de que este último aceitasse ser personagem do filme. A partir dos primeiros apontamentos trazidos por Kopenawa, Luiz Bolognesi decidiu convidá-lo a colaborar também no roteiro. A concepção do cinema como sonho foi importante na pesquisa, como também na estrutura da própria obra fílmica. Neste caminho, buscou-se produzir um filme coletivo e horizontal, com diálogos entre não-indígenas e indígenas na forma de representar a comunidade Yanomami e sua realidade. A perda de controle por parte da equipe liderada por Bolognesi, também se desdobrou no reconhecimento que eles não podiam impor um ritmo objetivo ao trabalho ou uma visão externa sobre o espaço/obra. A última floresta é um filme híbrido, compartilhado, que faz combinações bem dosadas de elementos documentais e ficcionais. |
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Bibliografia | Amar Rodríguez, V. (2009). El cine por una educación ambiental. Educação & Realidade. 34 (3), 133-145. Porto Alegre. |