ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Estilos sonoros no cinema brasileiro contemporâneo |
|
Autor | Damyler Ferreira Cunha |
|
Resumo Expandido | Nesta apresentação nos detemos sobre a relação entre música, som e imagem, a partir das indagações sobre a existência de estilos sonoros na cinematografia brasileira contemporânea. Pretende-se apontar repetições de estilos na organização dos sons em trilhas sonoras de filmes brasileiros, e discutir se sua falta de constância é o que mais o caracteriza. No cinema contemporâneo brasileiro são produzidas trilhas sonoras inovadoras, ou existe uma textura, uma sonoridade que as caracteriza? A partir dessas perguntas podemos traçar um caminho para pensar as práticas sonoras e musicais realizadas em filmes nacionais contemporâneos, ao mesmo tempo em que se somam como novos elementos para a problematização e a fragmentação da definição de estilo sonoro como categoria cinematográfica. Nessa perspectiva, os textos publicados no livro Pós-produção de som no audiovisual brasileiro (2019), organizado pelo pesquisador Rodrigo Carreiro destacam algumas dessas transformações relacionadas as novas tendências de estilo, como por exemplo, o uso cada vez menor de música tradicional, melódica e harmônica substituídas por drones, harmônicos e ambiências digitais. Nos filmes analisados, outras questões também aparecem como movimentos constantes de criação. Em comum, temos filmes que são considerados ficções de caráter documental ou documentários dramatizados, à exceção de Carro Rei (2022), de Renata Pinheiro, uma ficção cyber-punk-experimental e distópica. Há também uma temática geral presente que é o cotidiano das mulheres na periferia das grandes cidades brasileiras. Em Baronesa (2017), de Juliana Antunes e Temporada (2018), dirigido por André Novais, podemos perceber uma presença constante de planos fechados, que emolduram nosso olhar, além da proliferação de diálogos fora-de-campo. Nestes dois filmes há pouca interferência de efeitos sonoros e músicas extra-diegéticas e, quando aparecem são presenças sutis. As músicas diegéticas de Baronesa enfatizam o cotidiano das personagens, se concentrando no gênero de funk e rap. Em Temporada, existe a repetição de uma música extradiegética nomeada como “música divertida” nos créditos, um tema de clarinete suave e onírico, para pontuar pequenas mudanças no cotidiano da personagem principal Juliana (Grace Passô), como um corte de cabelo ou ainda para fabular sobre os fumacês de combate a dengue, outro som constante na paisagem sonora do filme. Mato Seco em Chamas (2022), de Joana Pimenta e Adirley Queirós, também poderia ser considerado uma ficção cyber-punk-experimental, caso não flertasse com procedimentos de caráter documental, o que é também exposto diretamente pelos narradores e personagens do filme. Apresenta como temática o cotidiano de duas mulheres da periferia no entorno de Brasília e assim, como Carro Rei traz sons das sucatas e das entranhas do interior do país. Nestes dois filmes, o conflito máquinas (motos, carros e gambiarras para extrair petróleo) versus humanidade é a tônica que contamina a narrativa e suas trilhas sonoras que, apresentam uma grande presença de efeitos sonoros e sons foley que se misturam as ambiências digitais e drones. Nestes filmes, os espaços sonoros surgem ora cheios, densos, com a presença de ambiências digitais e drones, mas também podem ser contrapostos por espaços vazios, com menos processamento de som e que fornecem tempo ao espectador para contemplar as sutilezas e o silêncio. |
|
Bibliografia | CARREIRO, Rodrigo (Org.). Pós-produção de som no audiovisual brasileiro (2019). Parahyba: Marca de Fantasia Editora. 236p. |