ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O figural e o olhar comparativo na tradição teórica do cinema político |
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Autor | Dinaldo Sepúlveda Almendra Filho |
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Resumo Expandido | Este texto propõe um debate a respeito do lugar ocupado pela “questão figural” e pela “abordagem comparada” (Dubois, 2012; Guimarães, Veras, 2016; Souto, 2019) na tradição teórica e histórica do cinema político. Para isso, articula três eixos problematização das relações entre “cinema e política” (Wollen, 1998). Primeiro, revisita o cinema político e descreve suas principais linhagens teóricas, observando suas heranças conceituais. Depois, examina essas repercussões na perspectiva de uma fenomenologia da imaginação política (Filho, 2022), orientada para a compreensão figural dos tratamentos poéticos dados às “emoções” e aos “motivos visuais” políticos (Didi-Huberman, 2016; Balló, Bergala, 2016). Por fim, relaciona as análises figurais e os métodos comparados para olhar o cinema político como materialização da imaginação poética, isto é, como intervenção figurativa dos filmes nas mais diferentes categorias da experiência política como a justiça, a liberdade, a igualdade, a fraternidade e a paz. Como exemplo desta discussão, coloca em diálogo evidências visuais e sonoras de A tênue linha da morte (Errol Morris, 1998) e Não Matarás (Krzysztof Kieślowski, 1988), obras que elaboram a crítica sensível da pena de morte como motivo visual e experiência fenomenal da justiça, nos trânsitos figurais entre o documentário e a ficção. Quando se estuda o cinema político em perspectiva histórica, percebe-se na teoria o quanto ele é uma categoria de análise mutável, pois pode restringir-se a adjetivações de filmes ou adotar pontos de vista qualitativamente diversos como militância, função social, linguagem, ideologia, autoria, temática ou modo produção, dentre tantos outros capazes de modificar seus entendimentos. Contudo, numa visão de conjunto das tradições teóricas — por exemplo, desde Eisenstein na década de 1920, passando por Alea nos anos 1980, até chegar a Rancière nos tempos atuais, para antecipar aqui alguns autores perquiridos —, é possível reconhecer um aspecto comum. Perseverou, em diversas teorizações do cinema político, uma tendência analítica que permanece, em pequena ou grande medida, indexada a parâmetros de vinculação da obra à sociedade, aos quais a questão figural se submete e, muitas vezes, sucumbe, diminuindo a potencialidade da comparação dos valores poéticos da política. É evidente que para o cinema político é absolutamente fundamental compreender suas vinculações com os campos de poder e os conflitos do mundo histórico. Seria leviano abstrair tais relações, negar tais relevâncias e os benefícios dessas abordagens, tanto para as teorias quando para as próprias lutas democráticas. Mas, por semelhança com os temas estéticos, percebe-se nessa tendência analítica uma disposição duradoura, um consenso teórico tão perene quanto a fidelidade mimética em torno do realismo cinematográfico. Com efeito, afrouxar as relações entre os cinemas políticos e os contextos sócio-históricos que os vivificam ocasiona perdas na fatura final das análises fílmicas. Ao mesmo tempo, investigá-lo cogitando, fenomenológica e comparativamente, os impulsos da imaginação poética alimentados pelas emoções políticas permite buscar a livre circulação dos motivos visuais entre diferentes filmografias. Isso requer pensar a imagem deflagradora, isto é, a própria imaginação que potencializa o que está visível nos filmes, associada ao processo figural que trata poeticamente as categorias da experiência políticas como, por exemplo, a justiça, em A tênue linha da morte e Não Matarás. Ao mesmo tempo, abre-se o caminho para reconhecer a questão figural como enclave teórico do cinema político, um território a ser penetrado por um flanco, a abordagem comparada das dinâmicas imaginativas que impulsionam figurações do político. |
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Bibliografia | BALLÓ, J; BERGALA, A. (Orgs.). Motivos visuales del cine. Barcelona: Galaxia Gutemberg, 2016. |