ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Reescrita histórica no documentário brasileiro contemporâneo |
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Autor | Giulianna Nogueira Ronna |
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Resumo Expandido | Esse texto busca refletir e analisar a recorrência gráfica em documentários brasileiros contemporâneos que se propõem a revisitar o período ditatorial, a partir dos testemunhos e trajetórias biografadas, contribuindo para a reflexão sobre o passado e o presente do país e, construindo, assim, novos espaços para uma reescrita da história. O debate em torno do gênero biográfico, no qual a apreensão dos acontecimentos se dá a partir das histórias individuais e da concepção do tempo em sua impureza (CERTEAU, 2011), quando aplicado ao cinema, proporciona que as modulações biográficas, a partir das suas visualidades, tornem-se capazes de expor as particularidades do tecido social a que pertencem, engendrando um discurso sobre a sociedade, sua época e sua história. Nesse sentido, a imagem é vista como uma premissa de conhecimento histórico, com a compreensão de um passado que se efetiva em relação a um outro, seja ele um sujeito, outro tempo ou o próprio presente que se ausenta. Este estudo também parte do entendimento de que, no contexto brasileiro, especificamente a partir de 2013, diante de uma realidade política e social abalada por acontecimentos como as jornadas de junho do mesmo ano, o golpe parlamentar de 2016, as eleições presidenciais de 2018 e 2022 e, os ataques golpistas de janeiro de 2023, vivemos em um cenário de ataques constantes às instituições democráticas e à celebração pública da violência do regime autoritário. Diante disso, esta proposta busca analisar como a palavra inscrita e o traço gráfico interferem na forma como as subjetividades dos sujeitos históricos são abordadas e como elabora o tempo histórico, confrontando, no silêncio da linguagem, o horror, o trágico, o indizível, na tentativa de apreender algo do ocorrido. Considerando o conceito de uma escrita do desastre de Blanchot (2016), que envolve a compreensão dos processos de testemunho por meio de uma escrita constituída a partir da espectralidade e dos vestígios de vozes ausentes, a análise se concentra no encontro da imagem com a escrita em filmes como Nossa Histórias (Angela Zoé, 2014), Em Busca de Iara (Flavio Frederico, 2014) Retratos de identificação (2014), Rogério Duarte: o tropikaoslista (José Walter Lima, 2016), Construindo Pontes (Heloisa Passos, 2017), Codinome Clemente (Isa Albuquerque, 2017), Fico te devendo uma carta sobre o Brasil (2019) e Apiyemiyekî? (2020). Produções que se propõem a revisitar o passado, assimilando as rupturas históricas, por meio de determinadas escolhas estéticas, entre elas, a recorrência gráfica. São postas em cena trajetórias interrompidas, testemunhos de sobrevivência, memórias pessoais e históricas, sobrepostas ao presente, através de operações temporais no interior da imagem, alinhavando e atualizando uma crítica social e política ao país. Nesse sentido é possível contemplar como as inscrições no interior da imagem, enquanto recurso narrativo, revelam o conhecimento do passado e como engendram novas visualidades históricas e temporais. |
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Bibliografia | BADIOU, Alain. Pequeno Manual de Inestética. São Paulo, Estação Liberdade, 2002. |