ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Dramaturgia da luz |
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Autor | Patricia Moran Fernandes |
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Resumo Expandido | As performances Audiovisuais da dupla M X M III, Mirella Brandi e Muep Etmo se estruturam no jogo entre presença e ausência de luzes e cores, assim como na exploração de formas compostas como esculturas diafanas e efêmeras. Ao longo do evento as formas ganham contornos e se modificam em função do volume de fumaça disponível e da dança da luz somada ao ritmo da forma da fumação e luz projetada. Percorremos mais de um trabalho da dupla para explorar o acoplamento de recursos expressivos das artes da interpretação cênica, da luz e música como dinâmica de criação das performances da dupla1. Há uma tradição de trabalhos na história da arte de exploração de cores, luzes e seu movimento, atravessando o século XX com o artista russo e professor da Bauhaus Moholy-Nage e seus objetos, passando pelas esculturas do brasileiro Abraham Palatinik e espaços de Hélio Oiticica, Carlos Cruz-Diez e James Turrel. Estes autores exploram o poder da luz transformar a visão e a percepção do entorno, sua existência vai além de iluminar os objetos ou personagens. A dupla M X M cria através dos ambientes de luz uma dramaturgia das intensidades que se aproxima de certas composições e provocações sonoras calcadas em movimentos que alternam intensidade e rarefação sonora em termos de quantidade de instrumentos, volume sonoro e ritmo. As performances audiovisuais são um acontencimento performativo no qual há o acoplamento de recursos expressivos das artes da cena, da música e das artes visuais. Acopla-se das artes da cena por exemplo, a dramaticidade de espetáculo miméticos que como uma partitura musical de intensidades define atos, reconhecidos como tal em função de certa similaridade na natureza dos acontecimentos. A alternância e repetição colaboram na criação de uma “atmosfera” que já é em si uma cena. Mirella Brandi é designer de luz, artista multimídia e diretora artística, Muep Etmo é músico. Iluminadora de espetáculos de ópera, ao exercer o ofício de iluminar os cantores, de mostrar de forma inequívoca aquele que se expressa, comentando com a iluminação o tom dramático pretendido para a cena, Mirella pensa em uma iluminação reversa. Ela substitui a exposição e a clareza pela falta de luz, pela falta de estimulos, momento em que o espectador é colocado em estado de espera, de prontidão. Tomando a Op Art como referência no primeiro trabalho com Muep, exploraram na performance Op 1 o ilusionismo do ver e não ver, expondo o movimento ritualistico e lento do corpo da bailarina Laly Krotozinsky a uma série de indeterminações, entre elas, a confusão frente e fundo, instalando indagações sobre a presença do corpo, sobre a natureza do ver. Mirella alcança o estranhamento que persegue, conforme ela coloca: “quando transformamos a fonte de luz e o modo de como a utilizamos, alteramos o comportamento do que vemos, e, consequentemente, nossa percepção de mundo se modifica” (BRANDI, 2015 p.48)” A Trilogia das Cores é uma série de 3 performances criadas pela dupla. Começa em 2010 com a pesquisa para Cinza (2010), prosseguida por Branco (2012) e concluída com a Chumbo (2015). Os nomes escolhidos remetem a “não-cores”. Cada trabalho acontece relacionado a um sentimento, a escolha dos nomes visava o que tanto é perseguido pela dupla, o inespecífico a abertura à imaginação e à experiências de mergulho nas intensidades propostas e modulações desenvolvidas na performance. A narrativa e dramaturgia da luz desconhece personagens e fábula, ela explora tempos e acontecimentos visuais e sonoros. Blanchot entende a literatura também em sua potência de indefinição, pois ela " - não é acabada nem inacabada: ela é." (BLANCHOT, 2001, p. 12). Continua Blanchot: “O espaço literário, por mais que seja semelhante ao espaço dos homens, é um mundo de regras próprias, em que prevalece a não-verdade, o não-poder e o não-saber, subsidiados pela ambiguidade.” (BLANCHOT, 2005, p. 327-8). É este não-saber e dramaturgia da ambiguidade que nos interessa na dupla M X M. |
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Bibliografia | BRANDI, Mirella. “A linguagem autônoma da luz como arte performativa: a alteração perceptiva através da luz e seu conteúdo narrativo.” Revista sala preta | Vol. 15 | n. 2 | 2015 |