ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Polifonias na montagem: das artes audiovisuais em Israel |
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Autor | MILENA SZAFIR |
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Resumo Expandido | Calem as obras audiovisuais israelenses e pouco, ou nada, compreender-se-á sobre suas complexidades estéticas: "na melhor das hipóteses, a obra de arte surge através da montagem" (BENJAMIN apud SZAFIR, 2014).
Esta apresentação faz parte de uma pesquisa marginal e tem como hipótese compreender aspectos da arte israelense frente às demandas em decolonialidade e o conceito de sul global ou, como "'escovar a história a contrapelo', concebendo-a do ponto de vista dos vencidos, em oposição à história oficial do 'progresso'" (LOWY, 2011)? Amós Oz e Fania Oz-Salzberger (2015) reiteram que "a tomada judaica do tempo linear não é a marcha moderna da história. (...) A mente moderna 'olha em frente' ou 'olha para frente'", daí a ideia de progresso. Sabemos que o hebraico, como idioma, se escreve e se lê da direita para a esquerda: "Quando falamos hebraico, literalmente estamos postados no fluxo do tempo com as costas para o futuro e a face virada para o passado. Nossa própria postura é diferente da concepção ocidental de tempo. (...) A palavra hebraica kedem significa 'tempos antigos', mas seu derivado kadima significa 'para frente' ou 'adiante'. O orador [em] hebraico literalmente olha adiante para o passado." Pós "Angelus Novus"(KLEE apud BENJAMIN,[1940]1994), como se projeta (to design) em Israel? Desconsideremos, por hora, os filmes de Eytan Fox, constantemente sob os holofotes de censores, BDS, à existência soberana da cultura queer em Israel: "uma extensão da ocupação israelense e do homonacionalismo"(ZAHAVI,2021). Pinkwashing(s) à parte, também aqui deixaremos de tratar da videoarte de Yael Bartana e do found footage (live broadcasting database) de Eyal Sivan (SZAFIR,2013). Foquemos no cinema como design (MANOVICH,2007;2013; SZAFIR,2016a) e na polifonia de vozes da montagem israelense (SZAFIR, 2014). Esta segunda segue na mais recente obra de Amos Gitai (com adendo LGBTQIA+), "Laila in Haifa"(2020, לילה בחיפה). No título - em qualquer idioma que o mesmo seja traduzido - há um jogo de palavras que introduz a polifonia de idiomas: um convite à escuta, ao Outro. Em "Footnote"(2011, הערת שוליים), Joseph Cedar opera através de uma polifonia godardiana, com uma montagem visual tanto temporal quanto espacial, onde a escuta se faz necessária à composição das imagens e vice-versa. Os flashbacks são trabalhados ora como design em movimento ora em estética split screen (por exemplo, jogando com as lógicas cinematográficas entre plano e contraplano nos diálogos diegéticos). Tais analepses, como fenômenos de anacronia, são projetados como uma quebra da quarta parede e, em termos compositivos, a montagem torna-se design (SZAFIR,2018). A montagem sonora de "Footnote" inicia-se com um jogo de palavras que remete aos vocábulos "pai" (הוֹרֶה) e "professor" (מוֹרֶה). Em uma sequência seguinte, há breve discussão decolonial sobre a "aparência do judeu", ironia? Como um diálogo com a montagem benjaminiana, ou warburganianamente (SZAFIR,2016), o filme convida-nos a articularmos "historicamente o passado [o que] não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. (...) O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. (...) Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer apoderar-se dela." (BENJAMIN,1994). O filme termina com sequências de um intenso jogo de "live" letterings e montagens paralelas, concluindo na escuta de uma trilha sonora e voz over diegética que da Fortaleza[dele] (מְצוּדָה/מְצוּדָתו) a [a]Esperança (התקווה), trabalham a afecção do/a espectador/a a um tom benjaminiano, como um "dom de despertar no passado as centelhas da esperança". No encontro apresentaremos os processos (SZAFIR,2016;2019; MANOVICH,2020) que nos levaram a estas e outras análises da arte contemporânea israelense desde sua montagem audiovisual que, desde Eisenstein, é concebida numa perspectiva transdisciplinar (DIDI-HUBERMAN,2019). |
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Bibliografia | FOOTNOTE [Hearat Shulayim]. (2011;107min.) A:23/4/23 |