ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Entre a montagem audiovisual e a fotografia cinematográfica |
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Autor | Rister Saulo Machado Rocha |
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Resumo Expandido | A montagem cinematográfica parte de uma somatória agenciada de planos, formando uma unidade. Segundo Dubois (2004, p.76), “a montagem é o instrumento que produz a continuidade do filme”, ou seja, não só uma narrativa, mas uma construção de blocos, uma adição, resultando em uma homogeneidade da obra. A partir desse conceito, podemos tomar certas lógicas, princípios da montagem, sendo uma delas a do cinema clássico. A montagem clássica, notória principalmente através do cinema hollywoodiano, se apega ao conceito do corte invisível, uma edição fílmica que foca em uma narrativa linear de forma a torná-la imperceptível com uso de técnicas fotográficas, movimentos de câmera, raccords etc. Sobre isso, Dubois (2004, p.76) menciona que “a montagem (clássica) não é senão a extensão ao filme inteiro da lógica de continuidade e da homogeneidade própria ao plano celular”. O cinema clássico se aproxima da representação do real, no sentido de propiciar ao máximo essa impercepção do filme, trazendo a quem o assiste, a imersão na obra. O cinema moderno, ao contrário, busca evidenciar as características da própria fotografia e da montagem, descolar do ideal de representação da forma, trazendo uma linguagem, diálogo com quem está assistindo, completamente diferente da narrativa linear do cinema clássico. Tomando como referência essas questões, buscarei analisar a obra "Footnote", do diretor e roteirista Joseph Cedar e da montadora Einat Glaser Zarhin. Esta obra, por mais que tenha uma respectiva linearidade com a montagem narrativa, traz um descolamento da atenção de quem assiste a trama, no momento em que passa a dividir os acontecimentos por blocos através de espectros da montagem espacial (MANOVICH, 2001) ou da composição do design em movimento (SZAFIR, 2018), sobre fundos pretos pipocam toda uma gama de letterings e assume uma identidade estética, uma lógica visual que remete à película das fichas de leitura dos manuscritos estudados pelos personagens, acadêmicos do Talmud. Além dos usos estéticos da blocagem e design visual de película, slides, existem dois momentos, na apresentação de fatos curiosos, espécies de flashbacks sobre os dois personagens, que o filme torna-se vídeo, "uma forma que pensa". Pelo ponto de vista do pai, é retratado uma estética de antigos slides escaneados. Essa estética se caracteriza por planos em split screen que transicionam em um movimento contínuo da direita para a esquerda, em analogia à uma semelhante exibição de filmes em película, uma espécie de mesa de edição. Em outro momento, ocorre a apresentação do filho, sendo nesse momento, adotada uma estética contemporânea relacionada à "Velvet Revolution" (MANOVICH apud SZAFIR, 2018). Apesar da recusa cinematográfica do uso de vídeo (GODARD apud DUBOIS, 2004), o mesmo está presente na obra "Footnote", a montagem de fragmentos fotográficos, mesclagem, fluxo e principalmente a preferência, escolha dos vestígios de imagem (BAZIN, 2018), sendo reivindicada em um tipo específico de uso (motion design), nos dá a possibilidade de novamente pensar observando. “Decompor para reencontrar a força do ver, para transformar de novo o ato de olhar num acontecimento, para ver se ainda podemos construir o sentido com as imagens.” (DUBOIS, 2004, p.297) Desta maneira, o filme de Cedar (2011) traz uma potência estética que alia desde o clássico ao moderno, e transporta consigo uma possibilidade de construir sentidos usando conceitos de (de)composição, fragmentos audiovisuais, para recompor não só a obra, mas o sentido das imagens postas em tela. |
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Bibliografia | BAZIN, André. O que é cinema. Tradução Eloísa Araújo Ribeiro. São Paulo: Ubu, 2018. |