ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Práticas coletivas no cinema feminista latinoamericano |
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Autor | Maíra Tristão Nogueira |
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Resumo Expandido | O fazer coletivo não é algo novo no cinema. Desde do seu surgimento, o cinema e a militância estiveram lado a lado e a criação de redes se apresentou como possibilidade de transformação social. Grupos como Cine Liberación, na Argentina, que elaboraram o manifesto decolonial do Tercer Cine, e o Grupo Ukamau, pioneiro no cinema coletivo na América Latina, são alguns exemplos de cinema militante que acreditavam na conscientização dos trabalhadores para a transformação social. Quando analisamos as equipes e os ativismos dos coletivos cânones, que surgiram a partir dos anos 1960, percebemos a ausência das cineastas mulheres e, até mesmo, um ativismo que incluía as questões de gênero. Do lado de fora do quadro, ou de uma cinefilia não hegemônica, as mulheres se aglomeravam em coletivos para pensar as questões políticas feministas como a participação e representação delas na frente e atrás da tela e a disseminação de informações políticas para as mulheres em todos os países latinoamericanos. Há registros de formação de equipes de mulheres e da construção de espaços e coletivos para trocas de saberes, conhecimentos e experiências. Como é o caso do México, em 1975, o coletivo Cine Mujer (1975-1987) que realizou filmes com equipes só de mulheres, abordando temas tabus, como aborto, trabalho doméstico, violência contra a mulher e prostituição. Na Colômbia, em 1978, também se fundou o Coletivo Cine Mujer, por iniciativa de Sarah Bright. No mesmo ano, as venezuelanas criaram o grupo Feminista Miércoles com o objetivo de difundir os direitos das mulheres por meio do cinema (SAN MARTIN, 2018). O Coletivo Mulheres de Cinema e Vídeo do Rio de Janeiro (1985-1987) surgiu como forma de debater a invisibilidade profissional das mulheres no cinema (SARMET; TEDESCO, 2018). Neste período, há uma virada na história do cinema, cuja escrita se reescreve a partir da emergência de narrativas que se configuram como uma potência política feminista baseada na perspectiva da experiência de vida delas e abrem possibilidades para novas partilhas subjetivas das experiências vividas. Para pensarmos as práticas feministas no cinema coletivo, Donna Haraway (2009) nos auxilia a refletir nas práticas relacionais para a produção do conhecimento e como o saber perspectivo e parcial, em rede, proporciona o rompimento com saberes hegemônicos. Haraway (1995) convoca para a contestação e a desconstrução, sendo as conexões em rede a esperança na transformação dos sistemas de conhecimento e nas maneiras de ver. Assim, os pensamento localizados críticos, apoiados na possibilidade de conexão, chamados de solidariedades políticas, são maneiras de construção do conhecimento da epistemologia feminista. Dessa forma, os coletivos de cinema feministas se apresentam como um movimento político das imagens, deslocando representações e linguagens audiovisuais, que em rede possibilitam ver junto, mas sem ser o outro (HARAWAY, 1995). As imagens produzidas com cunho político não são simplesmente políticas por apresentarem temas ativistas, mas ao criarem outras formas de leituras estéticas dos políticos. Esses corpos de mulheres em rede fornecem as bases da grande virada política para novas legibilidades. Os coletivos de cinema feministas se apresentam como lugares de uma escrita feminista do corpo que enfatize a visão, porque, como afirma Haraway (1995), a linguagem está diretamente ligada à incorporação visual para construção de saberes situados e é a única maneira de encontrar uma visão mais ampla, formando redes a partir do particular. |
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Bibliografia | DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tocam o real. Pós: Belo Horizonte, v.2, n 4, p.204-219, nov. 2012 |