ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Manifesto, de Julian Rosefeldt: da videoinstalação ao longa-metragem |
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Autor | Maria Cristina Mendes |
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Coautor | Valdir Heitkoeter de Melo Junior |
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Resumo Expandido | Ao analisar o audiovisual Manifesto (2015), realizado pelo artista e diretor alemão Julian Rosefeldt, tecemos reflexões acerca das contribuições a obra oferece para o entendimento da produção de arte na contemporaneidade. O roteiro, com bases em mais de cinquenta textos provenientes de manifestos políticos e artísticos, reorganiza e mescla diferentes discursos, em colagens verbo-visuais a compor uma narrativa disruptiva e não-linear, cuja ambientação em cenários contemporâneos reatualiza conteúdos textuais pregressos. De acordo com Andrew Uroskie (2014), em sua análise da presença de filmes em galerias de arte, não é suficiente mudar a forma do cinema, é preciso alterar a situação na qual a imagem em movimento é vista e exibida, bem como compreender o contexto no qual ela se situa. Desta forma, poder-se-á aprofundar questões acerca dos processos de criação e de recepção. O objetivo principal de nosso estudo é destacar possíveis aspectos experimentais na obra de Rosefeldt, e para isso, nosso recorte teórico-analítico se concentra na transposição do formato de videoinstalação para o formato de longa-metragem como base da discussão, a qual se desdobra na observação do suporte utilizado e nos modos de recepção que cada uma propicia.Para André Parente e Victa de Carvalho, a presença do cinema nas galerias e museus é marcada por deslocamentos no que concerne ao ver e ao ser, criando subjetivações nas brechas dos dispositivos “em um jogo criativo de relações travadas pelos espectadores com os dispositivos” (PARENTE e CARVALHO, 2009, p.38). Ao cotejar as características estruturais e narrativas que constituem cada formato e interferem em sua recepção e fruição, amparamo-nos também em Hugo Ljungbäck, que afirma ser possível situar Manifesto como um filme experimental, porque segue certas estratégias e técnicas tradicionais deste gênero cinematográfico, como “linguagem apropriada, narração em off, estrutura não-narrativa, abordagem direta do espectador, performatividade, autorreflexão e duração” (LJUNGBÄCK, 2018, p.136). Exposta pela primeira vez em 2015 na ACMI – Centro Australiano de Imagens em Movimento, em Melbourne, Austrália, sob o formato de videoinstalação, os treze personagens interpretados por Cate Blanchett têm seus respectivos núcleos narrativos divididos em treze telões diferentes dispostos em um único espaço; o áudio dos vídeos é reproduzido de maneira simultânea na galeria, o que confere ao projeto de videoinstalação uma cacofonia e uma sensação de imersão em um lugar caótico onde não se sabe ao certo qual personagem está dizendo cada frase. Além disso, é importante mencionar que cada um dos treze telões exibe respectivamente umepisódio, são eles: 1. Prólogo; 2.Situacionismo; 3. Futurismo; 4.Arquitetura; 5. Vorticismo/ Blue Rider/ Expressionismo Abstrato; 6. Estridentismo/ Criacionismo; 7. Suprematismo/ Construtivismo; 8. Dadaísmo; 9. Surrealismo/ Espacialismo; 10. Pop Art; 11.Fluxus; 12. Arte Conceitual/ Minimalismo; 13. Filme/ Epílogo. A transposição do formato de videoinstalação para longa-metragem exigiu que Rosefeldt reorganizasse os blocos narrativos, ainda que a intenção não fosse criar uma narrativa linear - pelo contrário –, os personagens, que antes tinham cada qual uma tela e um tempo de exibição mais curtos, passam a integrar um plano unificado de cenas sob o formato de longa-metragem. O diretor realiza, portanto, um processo de recorte e colagem do próprio trabalho, organizando sequencialmente trechos que antes eram separados em telões individuais, preservando a característica caótica e a narrativa não-linear e disruptiva que é o traço mais marcante da videoinstalação.Com o formato de longa-metragem, destacamos, a obra atinge um público mais amplo, que pode apenas imaginar a instalação, que, para a grande maioria, não foi possível conhecer. O retorno ao modelo tradicional de exibição fílmica, portanto, não deixa de carregar consigo, ainda que de modo velado, a potência da instalação. |
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Bibliografia | LJUNGBÄCK, Hugo. From Art Gallery to Movie Theatre: Spectatorship in Julian Rosefeldt’s Manifesto/ University of Wisconsin–Milwaukee, USA, 2018. |