ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O sitcom brasileiro, a rádio e o teatro: Origens de um gênero |
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Autor | Carolina Rodrigues Mendonça Martins |
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Resumo Expandido | O foco deste trabalho são as relações entre o início do sitcom e a comédia nacional no teatro e na rádio. O termo sitcom foi usado pela primeira vez em 1953, sendo uma abreviação de situation comedy - em uma tradução literal, comédia de situação. Em sua definição, o gênero televisivo se assemelha à comédia dramática, com uma tendência para o uso de bordões, humor físico e personagens estereotipados. Uma vez que é uma narrativa criada para ser assistida sem qualquer ordem e por um espectador distraído, o seriado sempre retorna ao mesmo estado de calmaria no final de cada episódio, com os personagens aprendendo sua lição momentaneamente, mas cometendo os mesmos erros nos episódios seguintes. Segundo Mittell (2004), como espectadores, temos o hábito de definir um gênero como “eu sei quando eu vejo” que, embora descreva bem como as pessoas lidam com a mídia que consomem, é prejudicial no contexto acadêmico: uma vez que a prática cultural de um gênero parece dada, não há a possibilidade de se questionar como esse gênero acabou sendo como é. Ademais, na academia há um padrão de analisar programas que se destacam da maioria por engajar em algo fora do habitual, o que resulta em um panorama de “casos especiais”. Para o estudo de gêneros isso é problemático, já que assim os textos mais analisados e que se tornam cânones são justamente os mais radicais, que destoam do que se via normalmente. Desse modo, se faz necessário um estudo historiográfico que analise, como defende Martín-Barbero (1987), os gêneros televisivos focados em cada país, uma vez que cada sistema cultural responde a uma estrutura jurídica, grau de desenvolvimento tecnológico e articulação popular. Além disso, se apoiar unicamente em estudos estrangeiros pode inclusive levar a um desalinhamento cultural entre a realidade do ecossistema audiovisual e os estudos sobre a televisão brasileira. No Brasil criou-se uma tradição de sitcoms de sucesso, que até hoje existe no imaginário coletivo e ocupa parte da grade de canais de televisão. Na TV brasileira, o primeiro sitcom nacional é produzido em 1953, “Alô Doçura”, programa que seguia os moldes de “I Love Lucy”. O seriado é um bom exemplo de como se davam as trocas nos campos: criado originalmente para a rádio por Otávio Gabus Mendes com o título de "O Encontro das Cinco e meia", foi posteriormente adaptado para a TV Tupi. Os protagonistas da comédia, John Helbert e Eva Wilma, já haviam atuado juntos na peça “Uma Mulher e Três Palhaços” em 1952, quando começaram a namorar. Ao estudar a história da TV, vemos como ela se cruza com o teatro e a rádio, uma vez que em seus primeiros anos as emissoras nacionais contam com pouco suporte técnico e ainda fazem as coisas improvisadamente. Desse modo, é possível ver características em comum entre os programas nacionais dos anos 1950/1960, quando a TV nacional passa a existir, e a tradição cômica no país. A comédia em específico nos interessa pois ela permite um espaço privilegiado para que o leitor (de teatro, da rádio ou televisão) pense em si mesmo: podemos ler alguns programas como uma dupla articulação, capaz de suportar a ideologia dominante e simultaneamente criticá-la. Uma vez que a audiência está mergulhada na cultura de massas, familiarizada com os signos e clichês que fazem parte desse universo, ele pode reconhecer a si mesmo e à sua realidade naquela representação. Isso é importante porque o gênero se consolida de modo circular: as expectativas da audiência, moldadas pelo seu contato anterior com o teatro e com a rádio, acabam por influenciar o conteúdo gerado por um canal, ao mesmo tempo que esse canal se esforça para responder às expectativas da audiência. O processo da formação do sitcom é transpassado pela tradição cômica geral, e uma trajetória do gênero não pode ser montada apenas visando a televisão enquanto meio independente. |
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Bibliografia | AGUIAR, Flávio. “A comédia nacional no teatro de José de Alencar”. São Paulo: Editora Ática, 1984. |