ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Processos de criação: materialidade, gestualidade e cinematografia |
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Autor | Eduardo Tulio Baggio |
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Resumo Expandido | O conceito de cineasta que embasa esta proposta de comunicação vem sendo debatido em grupos de pesquisa, inclusive no âmbito da Socine, faz alguns anos e tem como base, especialmente, a Teoria de Cineastas, mas também aportes como o da Crítica de Processo e dos estudos sobre processos de criação em geral. Tal conceito, apesar de alguma proximidade, não se confunde com a noção de autor, amplamente debatida no campo do cinema, entre outras razões pela distinção quanto ao perfil de quem é entendido como cineasta, distinto do autor. A concepção de autor dá ênfase ao sentido unívoco vinculado à obra fílmica, como visto em afirmações tão antigas como a de Germaine Dulac, de 1921: “todo trabalho cinematográfico que tenha valor em sua sensibilidade e poder deve ser o resultado de uma única vontade.” (DULAC, 2018, position 475) (T. N.), ou na conhecida frase de Alexandre Astruc, em seu artigo de 1948: “O autor escreve com a câmera como o escritor escreve com a caneta.” (ASTRUC, 2012, p. 03); De outro lado, o conceito de cineasta toma as várias individualidades, em trabalho coletivo e dialógico, enquanto produtoras de uma polifonia que leva à obra fílmica, porque considera que cineastas são todas as “pessoas envolvidas na produção de um filme que tenham atividades criativas.” (BAGGIO, GRAÇA & PENAFRIA, 2015, p. 25). Desse modo, tomo cineasta enquanto, entre outras possibilidades, também a/o diretor/a de fotografia e proponho um debate sobre as possibilidades de compreensão conceitual e metodológica dos atos de criação da cinematografia em suas dimensões de materialidade e de gestualidade. A materialidade da Mídia e da Arte pode ser pensada a partir de princípios relacionados ao encontro com as obras, com aquilo que afeta nossos sentidos, ou seja, com aquilo que está presente em um peça de comunicação ou de arte e com a qual tomamos contato físico, seja por imagens, sons, tato etc. A materialidade está além e aquém da experiência (BROWN, 2010, p. 49), por isso é tão difícil considerá-la. Entretanto, seja na acepção da “materialidade da prática cultural”, ou da “materialidade dos materiais”, ou ainda da “materialidade da tecnologia” (CUCINOTTA & PIEROTTI, 2021, p. 104), os estudos sobre processos de criação no cinema têm se valido bastante dessas concepções de materialidade. Talvez a materialidade interesse aos estudos processuais por conta de seu potencial enquanto indício e de sua resistência: “O foco crítico na materialidade muitas vezes teve que resistir ao poder explicativo de formas, estruturas e sistemas, da mesma forma que a materialidade muitas vezes faz sentido como marca e medida de resistência (como aquela que resiste).” (BROWN, 2010, p. 59) (T. N.). Assim, materialidade nos permite realçar o encontro com as obras naquilo que estas têm enquanto existência e resistência. Mais especificamente no campo das Artes, a materialidade tem sido uma constante pelo seu valor de gerar reflexões sobre a concretude das obras e do fazer das obras: “A imaginação criativa levantaria hipóteses sobre certas configurações viáveis a determinada materialidade. Assim, o imaginar seria um pensar específico sobre um fazer concreto.” (OSTROWER, 2014, p. 32). Esse fazer envolve também, evidentemente, relações com os aparatos e com a gestualidade derivada das operações destes que reafirmam, em alguma medida, a materialidade: “O resultado do gesticular (edifício, discurso aritmético, poema etc.) poderia ser chamado ‘obra’ e ser considerado, pela teoria, gesto materializado.” (FLUSSER, 2014, p. 22) A partir dessas dimensões, da materialidade e da gestualidade, evitando a análise específica de um filme ou de um conjunto de filmes, proponho especular conceitualmente sobre as possibilidades de investigação sobre os processos de criação de cineastas diretores/as de fotografia. |
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Bibliografia | ASTRUC, Alexandre. Nascimento de uma Nova Vanguarda: A Caméra-Stylo. Revista Foco, 2012. |