ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Pontos de escuta do Dolby Atmos e suas possibilidades no uso doméstico |
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Autor | Raphaela Benetello |
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Resumo Expandido | O trabalho pretende explorar os pontos de escuta (CHION, 2008) possíveis no uso doméstico do Dolby Atmos, observando o contexto da exibição e as possíveis formas de se consumir a tecnologia sonora em ambiente residencial (KERINS, 2017). O filme Nada de novo no front (2022), lançado exclusivamente para streaming, será analisado a partir do uso de fones de ouvido estéreo e um dispositivo com configuração para Atmos. No uso doméstico, o Atmos pode ser encontrado em home theaters, soundbars, televisores, tablets e celulares, desde que tenham a tecnologia em suas configurações. A mixagem em Atmos para uso doméstico também acontece de maneira diferenciada, com recursos mais simples e menor custo. No livro sobre pós-produção sonora no Brasil, Rodrigo Carreiro (2019) entrevista profissionais da área, abordando as perspectivas em relação ao Atmos. Entre opiniões distintas sobre a consolidação da tecnologia para cinema, é possível perceber um consenso em relação ao seu uso doméstico, principalmente no caso de produções nacionais. Carlos Klachquin, representante da Dolby na América Latina, explica em entrevista que o funcionamento do Atmos para fones de ouvido se assemelha a um sistema binaural “chamado de Synthesis Sound, na qual é possível criar um som virtual em várias posições, mesmo usando fones comuns, uma vez que o processamento acontece no equipamento.” (2023). Esse processamento citado determina frequências de onda compatíveis com o que seria percebido em uma sala de cinema e, através dessa síntese de campo sonoro, cria virtualmente um som espacializado, mesmo que escutado através de fones comuns. De maneira basal, o ponto de escuta (CHION, 2008) pode ser entendido como subjetivo e espacial. O subjetivo relaciona-se ao personagem, evidenciando quem ouve e o quê. O espacial busca as fontes sonoras, ou seja, qual o ponto no espaço da tela é a fonte daquilo que pode ser escutado pelo espectador. As possibilidades de espacialização sonora geradas a partir do Dolby Atmos ampliam as discussões relativas ao ponto de escuta espacial e as formas possíveis de aprimorar as percepções sonoras de um filme. O filme Nada de novo no front, dirigido por Edward Berger, estreou em setembro de 2022 e é uma produção original da Netflix alemã. A história acontece próximo ao final da Primeira Guerra Mundial e retrata as batalhas que acumulam mortes e pouco resultado efetivo para o término do conflito. O som original do filme foi lançado em Dolby Atmos. Em diversos momentos, granadas, morteiros e tiros de tanques acertam próximo à trincheira, acima da cabeça dos personagens e o ponto de escuta do espectador se assemelha ao dos soldados. Mesmo através de fones de ouvido, é possível perceber movimentos sonoros na horizontal e na vertical, principalmente na trilha de ruídos, como sons de balas e estilhaços. Um momento de destaque sonoro é a cena da chuva, aos 20 minutos, em que o ponto de escuta está nos soldados que tentam salvar a trincheira da inundação. A água preenche o espaço sonoro de forma completa, com o som das gotas de chuva caindo em diversas direções e o movimento de retirada da água através de baldes jogados pelos soldados para fora do espaço alagado. Nos diálogos, não há percepção sonora muito distinta do que uma experiência sem Atmos, com pontos de escutas mais interessados em evidenciar o que os personagens podem ouvir, permanecendo a ideia da voz mixada de forma centralizada. Com um ouvido interessado, é possível perceber as possibilidades sonoras do Atmos e seus pontos de escuta possíveis, mesmo para uso doméstico, principalmente na sensação de envolvimento diegético, com situações sonoras acontecendo em volta do que a imagem pode projetar. A experiência cinematográfica não é superada, mas ter a possibilidade de explorar os recursos relativos e a tridimensionalidade sonora dentro de casa, com aparelhos relativamente simples, é uma grande oportunidade de entendimento das escutas a partir do Dolby Atmos. |
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Bibliografia | CARREIRO, Rodrigo. A pós-produção de som no audiovisual brasileiro. Paraíba: Marca de Fantasia, 2019. |