ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O “nu artístico” em filmes e peças de Luiz de Barros |
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Autor | Luciana Corrêa de Araújo |
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Resumo Expandido | O chamado “nu artístico” tomou impulso no teatro de revista brasileiro sobretudo depois das turnês no país da companhia francesa Ba-ta-clan, que tiveram início em 1922. Segundo Neyde Veneziano, “com belas e glamorosas girls exibindo as pernas sem as antigas meias grossas das nossas coristas, a troupe francesa influenciaria a tal ponto o teatro ligeiro brasileiro que, imediatamente, o que era chamado de ‘nu artístico’ aqui se instalou” (2013: 69). No entanto, já na segunda metade dos anos 1910, encontram-se filmes e espetáculos de palco brasileiros que apresentam o nu feminino entre suas atrações. Salvyano Cavalcanti de Paiva aponta cenas de nu feminino nas revistas “O banho de Vênus” e “Adão e Eva”, encenadas em 1915 e 1917, respectivamente (1991, p. 181, 190). Também neste momento, o corpo nu feminino surge em filmes brasileiros. É o caso de Miss Ray em “Le film du diable” (Nacional Films, 1918) e de Ottilia Amorim em “Alma sertaneja” (Luiz de Barros, 1919). Além dos espetáculos teatrais, outra influência marcante, sobretudo para “Alma sertaneja”, veio da produção norte-americana “A filha dos deuses” (A daughter of the gods, Herbert Brenon, 1916), famosa pela cena de nudez da atriz e nadadora australiana Annette Kellerman. Depois de “Alma sertaneja”, o nu artístico voltaria a ser atração em filmes e peças de Luiz “Lulu” de Barros. Em 1925, Lulu assume a direção artística da Tro-lo-ló, uma das companhias criadas sob a influência da Ba-ta-clan com o objetivo de modernizar o teatro de revista brasileiro, imprimindo maior sofisticação e apelo visual aos espetáculos. Nas revistas da Tro-lo-ló, havia “discretos quadros de ‘nu artístico’” (Delson Antunes, 2002, apud. VASCONCELLOS, 2015, p. 30). Pouco depois, ao formar sua própria companhia, a Ra-ta-plan, Lulu de Barros continuou a explorar o nu artístico nas peças que encenava, em geral inserido em números de bailado. Textos promocionais garantiam que não se tratava do nu artístico como chamariz, “mas o nu com a graça e leveza, o nu como expressão de arte plástica, reprodução de atitudes rítmicas, exteriorização dos encantos femininos como linhas de esculturas vivas” (Jornal do Brasil, 11 set 1926, p. 16). Depois da Ra-ta-plan, Lulu montou em São Paulo o Moulin Bleu, um pequeno palco de variedades que passou a funcionar a partir de 1928 no subsolo do cineteatro Santa Helena. Tendo à frente os cômicos Genésio Arruda e Tom Bill, que no ano seguinte iriam estrelar o filme sonoro “Acabaram-se os otários” (Luiz de Barros, 1929), os espetáculos do Moulin Bleu continham números cômicos, musicais e “nus artísticos parisienses” (SOUSA JUNIOR, 2018, p. 48). Enquanto elaborava esses quadros de nu artístico no teatro, Luiz de Barros iria se envolver também na produção de filmes eróticos, com o projeto “Venenos da humanidade” (1927), que não chegou a se concretizar, e os filmes “Messalina” (exibido em 1930) e “Depravação” (exibido em 1932) (ver SOUZA, 2017). Ao abordar a prática do nu artístico em filmes e espetáculos teatrais de Luiz de Barros, com ênfase nas décadas de 1910 e 1920, esta comunicação pretende explorar uma perspectiva intermidiática, na qual cinema e teatro estão interligados. A partir do diálogo com o artigo “Proibido para menores e senhoritas”, no qual José Inácio de Melo Souza investiga a produção e exibição de filmes eróticos, brasileiros e estrangeiros, durante os anos 1920 e 1930, a proposta é estabelecer intercâmbios e também diferenças com o que ocorria na cena teatral carioca e paulistana daquele momento. |
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Bibliografia | GOMES, Tiago de Melo. Um espelho no palco – Identidades sociais e massificação da cultura no teatro de revista dos anos 1920. Campinas: Editora Unicamp, 2004. |