ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A "cine-reciclagem" na obra de Agnès Varda |
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Autor | Carolina Ribeiro Rodrigues |
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Resumo Expandido | Uma característica marcante da obra de Agnès Varda é a revisitação de suas obras para criação de novos trabalhos. Esse gesto de reutilizar imagens, temas e, até mesmo, a própria película fílmica, que ela própria chamou de "cine-reciclagem", é visto em diversas de suas criações artísticas. O presente trabalho busca identificar como Varda se aproveita de temas e imagens já "coletados" e trabalhados, além de buscar entender os efeitos que esse reaproveitamento causa em cada uma de suas formas de uso. Interessada nos novos meios tecnológicos disponíveis, em 2000, a cineasta realiza seu primeiro filme documentário digital, "Os Catadores e eu". Abordando a temática do desperdício e do reaproveitamento, o filme apresenta diversas formas de catar (seja alimentos, objetos ou imagens) a partir do encontro desta cineasta com diferentes personagens, ao longo de uma viagem pela França. Em uma das cenas mais simbólicas do filme, Varda encontra batatas em forma de coração na pilha de toneladas de batatas dispensadas por produtores. Ela as filma de perto, leva algumas para casa, deixa-as envelhecer, brotar, encolher. E é a partir desta sequência que Varda, em um gesto semelhante ao próprio filme, recicla suas imagens para produzir a exposição "Patatutopia", sua primeira experiência no campo do cinema expandido. Em "Patatutopia" (2003), Agnès apresenta, simultaneamente, em três telas, vídeos, de cerca de seis minutos e meio, com imagens de batatas de diversas formas, tamanhos e quantidades, projetados simultaneamente, em loop. A obra faz uma síntese de sua relação afetiva com o objeto exposto (as batatas), sua relação com a passagem do tempo sobre os corpos e a temática do desperdício de produtores, recapitulando passagens de seu filme documentário. Se em "Os Catadores e eu" a cineasta vai em busca de personagens que se aproveitam dos restos da colheita ou das sobras das feiras, em sua obra, Varda vai em busca de novas significações para as próprias criações, seja de imagens, temas ou a própria película fílmica, como é o caso de sua instalação "Minha cabana do fracasso", parte da exposição "A Ilha e Ela" (2006). Nessa instalação, Agnès, utiliza-se da própria materialidade fílmica para criar uma nova obra. A partir de películas em p/b, de 35mm, de seu filme "As Criaturas" (1966), um fracasso comercial à época, Varda criou as paredes e o teto de sua instalação, fazendo, assim, sua própria cabana de reciclagem. Varda costumava chamar sua cabana de "Cabana do Fracasso" mas, segundo ela, como foi reciclada com muita alegria, ela passou a chamá-la de "Cabana do Cinema", rejeitando a palavra fracasso e o próprio fracasso comercial do filme. Isso se deveu porque aquelas imagens, apesar de serem as próprias películas do filme, já não são mais o próprio filme, foram ressignificadas a partir da sua nova configuração. Dessa forma, a relação do espectador com as imagens gravadas em suas películas, a montagem da obra e o sentido dado a elas são reconstruídos em sua obra instalativa. Como podemos observar, então, todos os elementos presentes na obra de Varda podem ser reciclados, desde sequências audiovisuais, ideias e, até mesmo, o material físico dos filmes. Nessa "cine-reciclagem", apesar de já apresentados anteriormente, esses elementos tomam novos significados, gerando trabalhos autênticos em forma, sentido e relação com o espectador. |
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Bibliografia | BORGES, Cristian. Agnès e a ilha: o devir-plástica de uma artista. In: Catálogo da Retrospectiva Agnès Varda, o movimento perpétuo do olhar. RJ/SP: CCBB, 2006. |