ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Zé Caipora, de Agostini: fenômeno transmídia no Brasil da belle époque |
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Autor | CIRO INACIO MARCONDES |
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Resumo Expandido | Nesta pesquisa procuramos averiguar se um conjunto de fenômenos relacionados à história em quadrinhos “As Aventuras de Zé Caipora” (1883-1906), publicada, em jornais diversos, pelo jornalista e ilustrador ítalo-brasileiro Angelo Agostini, pode se configurar como fenômeno transmídia, ou ao menos pré-transmídia. Mesmo que os fenômenos encontrados na pesquisa não cumpram exatamente com todas as qualificações elencadas por Jenkins, ou, mais recentemente, dentro de um contexto de arqueologia transmídia, por Scolari et al., acredito que seja possível flexibilizar alguns critérios para localizarmos os fenômenos transmídia não apenas nas últimas décadas, mas também na passagem do século XIX para o século XX, demonstrando a intensa troca entre meios que havia na efervescente modernidade que se iniciava. “As Aventuras de Zé Caipora” é uma das histórias em quadrinhos pioneiras no mundo. Está entre as mais longevas serializadas no século XIX, e antecipa a aventura de traço realista em mais de 30 anos, considerando por exemplo o cânone norte-americano. Seu autor foi um dos mais importantes jornalistas brasileiros do século XIX, influente sobre o processo da abolição da escravatura, e fundador, no Rio de Janeiro, da importante Revista Illustrada, onde os primeiros capítulos dessa história em quadrinhos foram publicados. “As Aventuras de Zé Caipora” foi um enorme sucesso em um Brasil que começava a se adaptar aos aspectos da modernidade pós-industrial. Conforme argumenta Conde, a chegada da modernidade no Brasil ainda rural, pós-escravista e recém-republicano, veio como uma importação das ideias, produtos e modos de vida europeus. Ao final do século XIX e início do século XX, a então capital do país, Rio de Janeiro, via crescer suas avenidas, teatros de vaudeville e cinemas, e ter redes elétricas instaladas. A indústria de jornais e revistas ilustradas, em voga desde a primeira metade do século XIX, também cresce e se sofistica com equipamentos mais modernos. Tudo isso permite que “Zé Caipora” seja um retumbante sucesso, comentado pela burguesia local – o que permitiu que o personagem sofresse processos que estamos considerando como pré-transmídia. O personagem foi adaptado ao cinema ainda em 1909. O Brasil teve uma prolífica indústria de filmes na chamada “belle époque”, durante o chamado “primeiro cinema”, até mais ou menos 1912, quando houve uma queda diante da concorrência estrangeira. No que conseguimos levantar de informações, o personagem Zé Caipora foi adaptado para pelo menos duas canções populares, duas peças de teatro, um filme, além de ter sido registrado intensamente em cartas de leitores dos jornais onde era publicado – preconizado o fenômeno do fandom. No momento o mais importante em nossa pesquisa é encontrar informações sobre a adaptação de 1909 realizada por Emilio Silva e Chico Feliz. O filme desapareceu, como quase toda a produção da época. As relações entre as primeiras comic strips e o primeiro cinema são complexas, intercambiantes, e é importante que se os considere como fenômenos conjuntos, com as mídias gráfica e audiovisual trocando valores, histórias e formas narrativas. O filme “As Aventuras de Zé Caipora”, de 1909, foi registrado na Cinemateca Brasileira a partir de referências de pesquisadores históricos como Alex Viany, Vicente de Paula Araújo e Araken Campos Pereira Junior. Pesquisando na Biblioteca Nacional, encontramos registros em jornais da época que confirmam que o filme era brasileiro, mencionando Chico Feliz, e que adaptava (de maneira livre) a tira de Agostini. Este trabalho, ainda em curso, tem a intenção de investigar, para além da natureza dos produtos pré-transmídia originados a partir das histórias em quadrinhos de Agostini, outros filmes que saíram no mercado brasileiro na mesma época, com o nome de Zé Caipora (a maioria traduções de filmes franceses), a difusão da alcunha Zé Caipora no vocabulário popular de época, e entender melhor como foi feita a adaptação para o cinema em 1909. |
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Bibliografia | Conde, M. (2018). Foundational films: Early cinema and modernity in Brazil. University of California Press. |