ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A Rainha Diaba e sua trajetória desviante na preservação audiovisual |
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Autor | Débora Lúcia Vieira Butruce |
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Resumo Expandido | Apesar de atravessar crises recorrentes e apresentar uma situação de instabilidade que pode ser considerada crônica, a área de preservação audiovisual no Brasil avançou significativamente nas duas últimas décadas. E as mudanças não foram só no Brasil. Podemos afirmar que mundialmente o setor de preservação foi afetado pela transição tecnológica para o digital e pelo vertiginoso aumento da demanda por acesso ao patrimônio audiovisual. Acesso este alavancado, sobretudo, pelo surgimento de plataformas de compartilhamento de conteúdos audiovisuais e plataformas de exibição. Apesar de tentar responder a essa demanda através da digitalização massiva de seus acervos e da criação de suas próprias plataformas de exibição, além da manutenção de todas as outras atividades de menor visibilidade que exercem, a maior parte dos arquivos audiovisuais não contam com recursos suficientes para tal empreitada e nem com equipamentos próprios de digitalização, como é o caso do Brasil. Das dezenas de arquivos e instituições dedicadas à salvaguarda de acervos audiovisuais, somente poucos possuem tais equipamentos. Portanto, a maior parte das digitalizações feitas no Brasil são realizadas em empresas de finalização/pós-produção de obras audiovisuais, fator que tem implicação direta com o resultado dos processos. O projeto de digitalização do filme A Rainha Diaba (Antonio Carlos da Fontoura, 1974) surge nesse contexto, mas pode ser considerado uma exceção. O filme passou por um processo de digitalização em resolução 4K entre junho e setembro de 2022 através de uma iniciativa coletiva financiada pelo festival Janela Internacional de Cinema do Recife em parceria com a organização Cinelimite e o laboratório de finalização Mapa Filmes do Brasil/Link Digital. Os materiais originais em 35mm que deram origem a essa versão digital encontram-se depositados e estão sendo preservados pelo Arquivo Nacional (negativos de imagem e som) e pelo Centro Técnico Audiovisual - CTAv (cópia de difusão em 35 mm e as versões digitais confeccionadas anteriormente pela própria instituição). As características apresentadas acima já diferenciam a digitalização de A Rainha Diaba do contexto geral brasileiro: o processo foi financiado através de recursos financeiros dos envolvidos, sem o aporte de orçamento oriundo de nenhum edital específico, e os negativos originais de imagem e som em 35mm existem, estavam íntegros e em excelente estado de conservação. Além disso, a cópia de projeção em 35mm, apesar dos desgastes intrínsecos à trajetória de um material de difusão, também estava em ótimo estado. Para uma obra brasileira com quase 50 anos de existência, é algo que pode ser considerado incomum, visto que a maior parte dos projetos de digitalização ou restauração fílmica no país não contam com as matrizes originais em película, e, quando existem, encontram-se em mau estado de conservação (BUTRUCE, 2020). Tais fatores foram cruciais para o andamento célere do processo e o resultado de excelência. Além dos fatores elencados acima, a digitalização também contou com a coordenação técnica de um profissional de preservação audiovisual, o que fez com que fossem adotados princípios éticos claros ao longo do processo, dadas as inesgotáveis possibilidades de intervenção trazidas pela tecnologia digital, visando, sobretudo, a manutenção da dimensão histórica e estética da obra e do período em que foi realizada. É crucial a compreensão acerca dos limites do digital, que devem ser instaurados a partir do conhecimento acerca do filme a ser digitalizado e seu processo de produção, além da trajetória dos materiais. Este trabalho, portanto, pretende se debruçar sobre a trajetória de preservação e as características dos materiais originais em película de A Rainha Diaba, inserindo-as em um contexto brasileiro mais amplo, a fim de tentar compreender sua excepcionalidade e quais outras possibilidades de atuação junto ao patrimônio cinematográfico brasileiro podem ser pensadas a partir desta experiência. |
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Bibliografia | BUTRUCE, Débora Lúcia Vieira. "A restauração de filmes no Brasil e a incorporação da tecnologia digital no século XXI". Tese de Doutorado, Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2020. |