ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Hitchcock e Kiarostami - Cineastas do ponto-de-vista |
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Autor | Michel Henrique Araújo da Silva |
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Resumo Expandido | O trabalho a ser apresentado é fruto de minha atual pesquisa de mestrado pelo PPGCine-UFF, “Os olhos e as eras: Uma análise histórico-estética das reflexões de Alfred Hitchcock e Abbas Kiarostami sobre a noção de ponto de vista”. O cerne da pesquisa trata de correlacionar os procedimentos estéticos através dos quais ambos os diretores refletiram sobre a noção de ponto de vista no cinema - partindo de elementos como o enquadramento, a figura simbólica do narrador e o discurso meta-cinematográfico -, bem como sobre suas próprias épocas dentro da história das formas cinematográficas. Em seu artigo O olho da imagem: reflexões meta-estéticas no cinema de Abbas Kiarostami (2016), o pesquisador Luiz Carlos Oliveira Junior define desta maneira um elo potencial entre os diretores Alfred Hitchcock e Abbas Kiarostami “O cineasta iraniano embaralha duas concepções tradicionalmente tidas como opostas e irreconciliáveis: de um lado, a escuta parcimoniosa do mundo, a premissa rosselliniana do cinema como revelação do sentido ontológico da realidade; do outro, o desejo de controle e a representação do mundo atrelada a um postulado conceitual, a premissa hitchcockiana do cinema como arte que coloca o registro automático das aparências a serviço de uma ideia” (p. 46). Hitchcock, em sua fase maneirista (1948-1963), tomou proveito de maiores liberdades contratuais para, no seio do sistema industrial hollywoodiano, consolidar uma encenação “baseada inteiramente na dialética da fragmentação e do ponto de vista” (CASTRO DE PAZ, 1999, p. 21). Nos derradeiros anos da era clássica do cinema de estúdio, o diretor inglês radicado nos Estados Unidos produziu obras que eram simultaneamente o epítome do modelo de Hollywood, e o prenúncio de sua falência. Um de seus trabalhos mais evidentes nesse sentido é Janela Indiscreta (1954), em que um protagonista voyeur permanece física e simbolicamente separado dos vizinhos que observa, e se opera uma “hipertrofia formal” do uso do plano ponto-de-vista (Ibid., p. 22). Kiarostami, por sua vez, acompanhou o alvorecer do cinema contemporâneo na virada para o século XXI. Fazendo parte dos veteranos da escola neorrealista proeminente no Irã nas décadas de 1970 e 80, o diretor incorporou as tendências do emergente cinema “arthouse” para compor um estilo de feições mais pós-modernas em que “realismo cinematográfico e estética modernista” permitiam que os filmes falassem “sobre seu assunto e sobre o próprio cinema, concebido meta-realisticamente” (NAFICY, 2012, p. 177). Incidindo sobre as frestas entre documentário e ficção, o trabalho do iraniano já foi amplamente analisado e dissecado em seus questionamentos acerca do real no cinema. Em consequência destas tensões, todavia, seus filmes engendram também provocações sobre a noção do ponto de vista na complexa polissemia do termo. Trata-se não apenas do olhar pessoal de um personagem no interior da diegese - questão central em Gosto de Cereja (1997) - mas também do olhar do espectador, e a maneira como ele concebe intelectualmente a obra de arte. Ao encerrar Gosto de Cereja, fazendo o ator Homayoun Ershadi reaparecer num registro documental, revelando a própria produção do filme, Kiarostami desafia, também, convenções históricas e culturais que determinam como se olha uma imagem. A apresentação em si, dada a brevidade de seu formato, tratará de analisar algumas sequências cruciais de cada filme, pontuando uma possível dialética entre as provocações presentes em cada um, partindo de indagações como: “De que maneira cada diretor constrói o ‘auto-oferecimento’ (CASETTI,1998, p.33) do filme ao espectador?”; “Como se dá a inter-relação da cadeia de olhares - do espectador, dos personagens, do narrador – que estão em jogo na construção de cena?”; "Qual ponto de vista os filmes, de fato, assumem em seus processos de narração?”. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O ponto de vista. In: GEADA, Eduardo (org.). Estéticas do Cinema. 1° Ed. Lisboa. Publicações Dom Quixote, Lda. 1985. pp. 125-156 |