ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Roteiro colaborativo: Chytilová, Krumbachová e Kucera |
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Autor | Esther Hamburger |
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Resumo Expandido | Esse trabalho discorre sobre a co-criação do roteiro de As Pequenas Margaridas (1966) de Vera Chytilová. Em pesquisa anterior, reconhecemos a relevância do roteiro no processo de criação da diretora e dos próprios modos de produção do Cinema Estatal Tchecoslovaco da época. Chytilová assina oficialmente o roteiro com a diretora de arte e figurinista do filme, Ester Krumbachová. As realizadoras apontam a participação de Jaroslav Kucera – diretor de fotografia e co-diretor de arte, além de marido de Chytilová. Essa apresentação se baseia em materiais provenientes de diversas fontes nos acervos da Cinemateca Tcheca onde coletamos os roteiros dos filmes e entrevistas dos realizadores (Bolsa Bepe Fapesp 2022/04554-0 de Luiza Wollinger Delfino) . O contato com o pesquisador e professor Petr Sczepanik ajudou a melhor entender o sistema de produção cinematográfico do país. E a recente disponibilização dos arquivos pessoais de Krumbachová e Kucera possibilitam a compreensão de seus processos criativos. As diversas fontes sugerem que o trabalho colaborativo desse trio, em momento privilegiado da cinematografia tchecoslovaca, favorece a criação visual-artística original desde a gênese dos projetos, incluindo o processo de roteirização. A equipe trabalha com a ideia de desconstrução em diversos sentidos, a começar da integridade moral das duas jovens protagonistas, que usam a sedução como ganha pão, mas também a desconstrução da linearidade narrativa, o questionamento da unidade da imagem, a partir das cores, texturas e colagens, a destruição do cenário, a deglutição do banquete. Pretendemos usar a crítica genética tal como proposta por Cecília Salles para analisar as relações entre roteiro e filme, problematizando a possível distância entre o que está em cada versão do roteiro e o que aparece em cena. Uma busca semelhante a de Monzani em Gênese de Deus e o Diabo na Terra do Sol (2006). Percebemos a presença de desejos semelhantes entre a Nova Vlná e o Cinema Novo, porém detectamos marcas de modos de produção diversos, já que dentro do cinema estatal tchecoslovaco, os cineastas da Nová Vlna estavam submetidos a processos sistemáticos de realização. No sistema Tcheco da época, o roteiro literário é equivalente ao roteiro nas convenções atuais: falas e rubricas. No caso de As Pequenas Margaridas, ele é formatado em duas colunas (uma para imagem e outra para som), apesar dessa prática já perder força nos anos 60 para o de coluna única. Aprovado o roteiro literário, submete-se o roteiro técnico: também em duas colunas, mas com indicação da cor do negativo, estimativa de metros de filme, numeração de planos e por vezes detalhes sobre movimento de câmera ou possíveis trucagens. Interessante notar como nos roteiros tchecos "cenas" são chamadas de "imagens" (“obraz” no original) em ambas etapas de roteiro, o que já sugere a preocupação imagética do roteiro. Surpreende como um roteiro com tantos detalhes técnicos e formais resulte em um filme tão livre e experimental quanto As Pequenas Margaridas. Seria possível então pensar no roteiro como alavanca criativa e não como ferramenta de controle? De qualquer forma, como alternativa à lógica causal e enredo com morais claras, o filme mobiliza elementos estéticos (truques, tingimento dos planos, motivos visuais de borboletas e flores), diálogos absurdos e a estrutura das cenas em esquetes, sem ligação espaço temporal entre elas. Os diálogos se mantêm praticamente inalterados entre o roteiro técnico e o filme. De acordo com Chytilová, este seria o único elemento fixo, o direcionamento principal nas filmagens – de resto, tudo estaria aberto à improvisação e mudança. Esse trabalho olha para o roteiro de As Pequenas Margaridas e estimula discussões transnacionais comparativas sobre o roteiro. A pesquisa mobiliza questões referentes à arquivos, institucionais e pessoais, e suas potencialidades para estudos de roteiro e processo criativo no cinema. |
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Bibliografia | BERNARD, Jan (Org.). 5 a 1/2 scénáre Ester Krumbachové. Praha: AMU, 2021. |