ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Liberdade vertiginosa: o ensino de cinema experimental na universidade |
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Autor | Luis Fernando Severo |
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Resumo Expandido | O objetivo desta comunicação é compartilhar minha experiência durante quatro semestres como professor da disciplina optativa Cinema Experimental e Underground no Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Paraná, instituição pública e gratuita que iniciou suas atividades em 2005 e onde ingressam anualmente sessenta estudantes. Os dois primeiros semestres enfocados aqui foram realizados durante o período pandêmico, através de aulas online e os dois últimos contaram com aulas presenciais. Para avaliação e atribuição de notas foi solicitado a entrega de um filme experimental, realizado individualmente ou em equipe, e de um memorial descritivo referente à sua realização. Os filmes realizados durante a pandemia foram compartilhados e assistidos somente na versão online, sendo comentados pelo professor e pela turma. No período presencial esse processo aconteceu durante exibições na Cinemateca de Curitiba. Esse preâmbulo se faz necessário para a plena compreensão das observações que faço a partir da metodologia das aulas e os resultados obtidos, que foram quantitativamente e qualitativamente muito expressivos. Durante os quatro semestres a maioria optou por trabalhos individuais, o que resultou em mais de oitenta filmes concluídos e exibidos. Para efeito de comparação, as disciplinas de Direção Audiovisual, das quais também sou professor, costumam resultar em quatro ou cinco filmes por semestre, todos realizados em equipe. A metodologia adotada parte do princípio de que não é possível ensinar formalmente cinema experimental, que se caracteriza pela absoluta ausência de regras ou conceitos pré-definidos, sendo sua realização caracterizada pela completa liberdade temática, estilística e formal e a ausência de cânones a serem reconhecidos. Dessa maneira a participação do professor se faz através de uma curadoria de conteúdo que expressa sua visão pessoal do tema, visando e estimular a criação pela aproximação a novas propostas fílmicas. A leitura dos memoriais e as conversas pós-exibições revelaram uma verdadeira explosão criativa, cuja ignição parte do contato com a obra de realizadores como Jonas Mekas, Maya Deren, Stan Brakhage, Ken Jacobs e Michael Snow, para ficarmos entre os mais citados, com destaque para a região onde o experimental e o underground se entrecruzam nas obras de Rogério Sganzerla, Julio Bressane e Andy Warhol. A opção pelo trabalho individual ao invés da tradicional formação de equipe foi justificada na maioria dos casos pela descoberta de uma forma de expressão cinematográfica que permite a transição de ideias, sensações e sentimentos para a tela sem a intermediação de metodologias de criação a serem discutidas em grupo e sem a exigência de domínio técnico além do acionamento de qualquer dispositivo de registro de imagens e sons, ou de processos inteiramente computacionais. A partir do registro de uma fala de Mekas que realizei na Cinemateca Francesa, ficou estabelecido que o gesto criativo no audiovisual não necessita de preparo ou premeditação, do uso de aparatos técnicos sofisticados ou de um projeto pré-definido de montagem, operando com sucesso a transposição de um desejo de filme para as telas, o que gerou na disciplina um número significativo de diários filmados. Das reflexões contidas no seminal Metaphors on Vision de Brakhage e de seus resultados brotaram mergulhos na abstração por intermédio formas e sensações que convidam à vertigem do prazer da pura percepção. A evocação de Maya Deren incorporou a vários trabalhos tinturas surreais e de viés feminista e o cinema queer se fez presente a partir do diálogo com a obra de realizadores como Jack Smith e Gregory Markopoulos. Encontraram espaço também nas obras apresentadas as referências ao anarquismo poético de Bressane, Sganzerla e Reichenbach e ao labor construtivista de Carlos Adriano e Arthur Omar, num fecundo diálogo com o cinema brasileiro. |
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Bibliografia | ALBERIA, François. Modernidade e Vanguarda do Cinema. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2012. |