ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Curadoria educativa em festivais infantojuvenis |
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Autor | Ana Paula Nunes |
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Coautor | julio cesar de souza tavares |
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Resumo Expandido | No artigo “Curadoria educativa: percepção imaginativa/ consciência do olhar”, Vergara (2018) desenvolve o conceito de curadoria educativa ao discorrer sobre a arte atravessando fronteiras quando se estende para a vida cotidiana, em contraposição ao espaço “sagrado” e institucional da arte. Já a provocação temática do encontro da Socine, deste ano, aborda a universidade sem fronteiras e o desafio de construir sociedades mais justas e igualitárias, na luta constante pela democracia. Nossa proposição de uma curadoria educativa em festivais de cinema, com foco no público infantojuvenil, visa unir essas duas perspectivas: vida comum em contraste com o espaço “sagrado” dos filmes e a construção de uma sociedade mais justa por meio de uma discussão sobre o apartaide no audiovisual brasileiro, ou ainda, nas palavras do texto da Socine 2023, sobre: “os povos expostos, os povos que faltam e os que se inscrevem no porvir”. Baseada no pensamento desenvolvido por Vergara (2018), a proposta desta comunicação é levantar uma reflexão sobre uma atitude estética mobilizadora de uma consciência que se fundamente numa prática do encontro com o cinema/audiovisual de maneira orgânica, conectada com a vida comum, com as questões que permeiam a construção de infâncias e juventudes. Em outras palavras, trata-se de uma ponderação sobre uma estratégia de materializar a “relação sujeito/arte/mundo”, uma “expansão de fronteiras entre arte e vida” (VERGARA, 2018, p. 40), mas, aqui, com o público no centro desta ação - uma experiência cinematográfica como consciência no mundo. Porém, o cerne do pensamento de Vergara (2018), com o qual dialogamos não é a consciência do olhar mobilizada pela arte (defesa que o autor já traz no título do seu artigo), pois optamos por dar ênfase à percepção como atributo de uma corporeidade plena, sem a hierarquização da visão, com todos os seus sentidos ativos na relação com o mundo, mesmo quando se trata de imagens; mas sim a compreensão de que: “Uma curadoria educativa tem como objetivo explorar a potência da arte como veículo de ação cultural”. (VERGARA, 2018, p.42) Neste ponto chamamos para a conversa Paulo Freire (2015, 2005), que defende ação cultural como uma ação transformadora, que transfigura o meio natural (o mundo comum) em meio cultural, ou seja, uma práxis conscientizadora. Mas é importante ressalvar que a conscientização não é um fim em si, para Freire é preciso diferenciar a prática da “extensão invasora”, da “extensão como comunicação” (GADOTTI, 2017). Traçando um paralelo com os festivais de cinema, argumentamos que é fundamental marcarmos, enquanto campo de conhecimento, que não estamos “levando cultura” para um público pouco assistido como em uma lógica de educação bancária, mas sim construindo um diálogo com os/as espectadores/as, produzindo conhecimento em conjunto, o que é complexo e contraditório, e por isso mesmo é tão relevante ponderarmos mais sobre curadoria, especialmente, para o público infantojuvenil. Neste sentido, vamos refletir sobre curadoria educativa, suas dimensões de cuidado e cura (ALMEIDA, 2018), considerando a experiência das quatro edições da Mostra de Cinema Infantojuvenil de Cachoeira – ManduCA, com um público majoritariamente negro, do Recôncavo da Bahia. Abordaremos, principalmente, três questões levantadas por Almeida (2018, s/p): o quanto “essa tarefa de selecionar o que será visto – e o que não será visto – está diretamente ligada ao próprio entendimento do que vem a ser o cinema”; a importância de “compreender toda e qualquer curadoria como um processo inevitavelmente político”; o desafio de pensarmos “processos curatoriais que invertam a premissa de que o estético nunca possa ser pensado a partir do político”. Em síntese, defendemos que partir do dispositivo (no sentido focaultiano) de uma temática do cotidiano (não didática), que corresponde a anseios e inquietações do público, já é uma forma de contra-poder, um gesto político. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Carol. A cura pelo cinema. Fora de quadro, 2018. Disponível em: https://foradequadro.com/2018/10/12/a-cura-pelo-cinema/ Acesso em: 22 nov.2022. |