ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A inquietação do espaço: o fantástico e as narrativas fílmicas |
|
Autor | Alexandre Bruno Gouveia Costa |
|
Resumo Expandido | O texto proposto, se propõe a investigar o espaço fílmico, tendo como referência a trilogia do diretor cinematográfico maranhense, Frederico Machado, construído como “inquieto’ e “inquietante”, ou seja, como vinculado ao fantástico. Para isso, além da revisão de estudos clássicos da literatura fantástica, realizarei um estudo aprofundado sobre imagem cinematográfica, suas abordagens diegéticas e a definição de espaço. Os filmes: O Exercício do Caos (2013); O Signo das Tetas (2015) e As Órbitas da Água (2021), são as três obras que compõem a referência inicial para o estudo aqui proposto, em torno do espaço, do fantástico e das narrativas fílmicas. Como problema norteador para o caminho desta pesquisa reflito sobre a inquietude do espaço fílmico como elemento do fantástico. Essa reflexão tomará como ponto de partida a trilogia fílmica. O diretor e produtor dos filmes Frederico da Cruz Machado nasceu na cidade de São Luís, no Maranhão. Em O Exercício do Caos, de 2013, a narrativa carrega no suspense e a história de um pai soturno e autoritário que vive com as três filhas adolescentes em uma fazenda de mandioca no interior do Maranhão. A família compartilha a ausência da mãe e lida com os ditames rigorosos de um estranho capataz que os explora enquanto assedia sexualmente as três irmãs, divididas entre a ilusão da infância e a cruel realidade de suas vidas. Enquanto o eixo familiar desmorona pouco a pouco, os personagens, fragilizados, situam-se no limiar entre a razão e a loucura, entre o caos e a fé. No segundo filme da trilogia, O Signo das Tetas (2015), a personagem principal, não nomeada, busca no trânsito entre o campo e a cidade o acolhimento do seio/teta materna. A trama é carregada de melancolia ao olhar para o fracasso do macho/adulto da personagem masculina. Os corpos das personagens que se tocam não estabelecem conexão. O homem que vagueia estabelece um ritmo com os espaços, em que a dúvida se é real ou fruto da imaginação permanece até o fim da trama. O desfecho da trilogia, As Órbitas da água (2021), é considerado o filme mais hermético e o mais radical dos três. É quando um casal de forasteiros chega um pequeno vilarejo à beira do rio (a localização não é apresentada), e na relação com os moradores, entre olhares desconfiados e de desaprovação, o casal se dedica a viver com intensidade suas pulsões e paixões. A obra é dividida em três partes (“Água”, “Lodo”, “Órbitas”). As três obras enfatizam o espaço como elemento desnorteador do real, como algo inquietante, como agente de experiência. Dessa forma, os filmes me mobilizaram a pensar o potencial da narrativa fantástica que se concentra consideravelmente na dimensão espacial das obras, nas ambientações: na floresta, no rio, na igreja, na praia ou espaços da cidade. Por isso, a inquietação é modo de problematizar a narrativa ficcional e, por meio desta, alcançar contornos e modos de experienciar o fantástico nas narrativas fílmicas. Inquietação aqui é entendida como elemento que caracteriza o fantástico e está associada diretamente a dimensão espacial dos filmes escolhidos. Qualquer outro recurso estético da linguagem fílmica, como personagens, trilha sonora ou som diegético, fotografia, pode desenvolver também o fantástico (e será considerado na pesquisa). A escolha deste material fílmico se dá, em primeiro lugar, pela narrativa ficcional como solução considerável para o desenvolvimento de práticas culturais e contextos apresentados. Para esta proposta, a espacialidade/espaço fílmico é resultado do espaço narrado, produzindo percepções e lugares imaginários, criando formas sensíveis para se experienciar a vida mundana, promovendo inquietação. Mais do que definir um cenário para narrar uma história, o espaço coloca em jogo a própria existência da experiência fílmica. |
|
Bibliografia | BAZIN, André. O Cinema - Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991. |