ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Estratégias Narrativas nos Documentários em Realidade Virtual |
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Autor | Francisco Merino |
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Resumo Expandido | O documentário é um campo de experimentação muito fértil no contexto da Realidade Virtual (RV), o que justifica a sua valorização crescente no atual ecossistema mediático. O interesse da Academia por este género tende a focar-se, sobretudo, na dimensão imersiva e no modo como a sensação de presença contribui para gerar empatia e alteridade. Ao projetar o utilizador para o espaço da representação, o dispositivo procura apagar os vestígios da mediação e privilegiar a experiência vivida do sujeito, vinculando-o ao olhar do outro. É neste sentido que diversos autores têm reconhecido a RV como uma máquina de empatia, sendo que alguns autores atribuem esta faculdade ao próprio dispositivo e outros ao design imersivo da experiência. Nos últimos anos, algumas das características mais reconhecíveis dos formatos em RV têm merecido uma reflexão aprofundada por parte da Academia. Autores como Alison Jane Martingano & all, por exemplo, realçam que a RV promove apenas uma tipologia de empatia, a chamada empatia emocional, revelando-se pouco adequada ao desenvolvimento da empatia cognitiva. No plano narratológico, a permanente negociação entre o discurso produzido pela obra e o primado da experiência vivida do utilizador no ambiente virtual suscitam uma multiplicidade de questões, que derivam tanto do experimentalismo que ainda define o formato como da singularidade dos processos de narração em RV. O olhar do cineasta e a própria figura tutelar do autor enquanto instância de produção discursiva são condicionados pelo primado do sujeito, com amplas repercussões na representação de narrativas. É neste sentido que, de modo a compreender a especificidade dos processos de narração em ambientes virtuais, alguns autores têm defendido a utilização do conceito de storyliving, uma história que é menos narrada do que experienciada. Embora o meio ainda não tenha conseguido fixar uma gramática e se revele extremamente resistente à identificação de padrões, códigos ou sequer estruturas narrativas comuns, é importante perceber que tipo de mensagens podem ser transmitidas através desta modalidade de representação, que processos de narração são favorecidos pelo primado da experiência vivida do sujeito e que sentido pode ser produzido a partir da imersão sensorial do sujeito no mundo virtual. O nosso objetivo é compreender de que modo tema, imersão e empatia se articulam no contexto das estratégias narrativas dos documentários em RV. Através de dois documentários RV com estratégias e modalidades de representação muito diferentes – Notes on Blindness (2019) e Travelling While Black (2019) – procuraremos identificar as afinidades deste género com o seu congénere cinematográfico, as estratégias empáticas e, em termos mais amplos, o modo como o sentido se produz e é e comunicado em RV. Notes on Blindness (2019) pretende ser uma viagem cognitiva e sensorial em torno da cegueira, focando-se na experiência individual do seu protagonista. A representação confere primazia à dimensão sensorial, recorrendo primariamente ao som espacializado e ao grafismo digital. Travelling While Black (2019) centra-se nas relações raciais nos Estados Unidos da América e tem mais afinidades com o documentário cinematográfico, a que acrescenta as propriedades e modalidades de representação específicas da RV. Ambos recorrem a programas narrativos que, em conjugação com a projeção sensorial do sujeito no mundo virtual, enfatizam a dimensão empática e promovem um conhecimento mais aprofundado dos temas retratados, ainda que com estratégias distintas. Apoiados em metodologias de análise fímicas, narratológicas e vinculadas aos meios digitais, desenvolvidas por autores como Greimas, Lev Manovich e Marie-Laure Ryan, procuraremos contribuir para uma análise sistemática e abrangente às estratégias de narração em documentários RV. |
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Bibliografia | Bucher, J. (2018). Storytelling for Virtual Reality. New York and Oxon: Routledge. |