ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Caracterização, imagens de controle e criação de personagens negras |
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Autor | Luciana Soares de Medeiros |
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Resumo Expandido | Partindo da experiência pessoal enquanto caracterizadora, instrutora e pesquisadora, surgem as dúvidas e curiosidades iniciais acerca do papel do profissional responsável pela criação de um projeto de visualidade para personagens. Historicamente vinculada à profissão de ator enquanto especialização de sua atividade profissional, a caracterização (compreendendo figurino, cabelo e maquiagem) é parte fundamental na composição de personagens. Da reprodução de personagens-tipo nos palcos teatrais à elaboração detalhada para confecção do visual de "divas" Hollywoodianas, o trabalho de caracterizadores - especialmente com a popularização do cinema e o acesso a produções audiovisuais variadas possibilitado pela televisão - acompanha o desenvolvimento social e tecnológico e evidencia a relevância deste profissional responsável por trazer esteticamente à vida um ser fictício e idealizado para atender necessidades de determinadas narrativas, demandando não apenas conhecimento técnico da prática de aplicação de produtos para criar cabelo e maquiagem e de materiais para compor figurinos, mas também conhecimentos teóricos e históricos, facilitadores de uma mais complexa leitura social, tanto sobre o contexto retratado no projeto cênico a ser desenvolvido, como do momento em que a produção se desenvolve. Da pesquisa sobre a relação entre conhecimentos teóricos e técnicos destes profissionais e suas práticas de criação de projetos de caracterização, surgem dados da subjetividade dos profissionais entrevistados, e dados objetivos da realidade da profissão no Brasil. Destacam-se, neste sentido, a irregularidade da estruturação da formação do profissional maquiador; a dificuldade de inserção nos campos de prática enquanto criador de projetos e articulador de teorias e técnicas, não somente aplicador de produtos; a relação fundamental e intrínseca com a direção de arte das produções e seu campo específico de estudo para projetos; a pouca incidência de pesquisas acadêmicas tendo a área da maquiagem e/ou o maquiador-caracterizador como foco (totalizando menos de 10 trabalhos de mestrado e doutorado apresentados no país até fins de 2022). Daqui, novas reflexões emergem, relacionando a criação de visualidade de personagens negras em diálogo com demandas sociais e acadêmicas sobre representação e representatividade nas produções cênicas. Buscou-se, então, articular as relações de poder advindas das questões sociais/históricas/políticas entre Brasil e Estados Unidos que desaguam no impacto que a indústria cinematográfica estadunidense exerce sobre a indústria cultural brasileira, em particular sobre a forma como mulheres negras são representadas. Observando ainda a atuação e relevância de caracterizadores estadunidenses ao longo da história do cinema na criação de visualidade de personagens transformados em ícones de beleza, elegância, personalidade e forma de ser e estar no mundo, unem-se os dados supracitados para buscar pensar como vem sendo construída a imagem da mulher negra neste contexto. Para tanto, foi selecionada como objeto de estudo Viola Davis, atriz estadunidense, para análise da composição visual das personagens representadas por uma atriz negra de pele escura considerada a principal (ou uma das) referência da área em termos de representação positiva, qualidade de atuação e prestígio profissional. As personagens de Viola, contudo, trazem à tona a realidade da composição visual reforçadora de estereótipos complexos incidentes sobre corpos negros. Com o conceito de Imagens de Controle como suporte, empreende-se uma discussão acerca da relevância social das imagens criadas em produções cênicas não apenas em seu papel de dar corpo e vida a um ser ficcional, mas também no sentido de colaborarem como instrumentos de poder dentro de uma estrutura de dominação que, a partir de formas de representação específicas, justifica opressões de raça, classe e gênero, destituindo mulheres negras de poder, agência, intelectualidade, enfim, humanidade. |
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Bibliografia | BUENO, W. ‘Eu não me via na TV’: como o pensamento feminista negro me ajudou a entender quem eu sou. In: The Intercept. 18 out 2019. Disponível em https://theintercept.com/2019/10/17/feminismo-negro-me-ajudou-entender-quem-sou/ |