ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | As contradições do cinema brasileiro na luta por um maior market share |
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Autor | Ana Paula Sousa |
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Resumo Expandido | A participação de mercado dos filmes nacionais nas salas de cinemas foi, ao longo das últimas décadas, um dado importante para as políticas cinematográficas ao redor do mundo. O fato de a França ter um market share que varia, em geral, de 35% a 40% e de os filmes sul-coreanos venderem mais de metade dos ingressos do país são comumente apontados como indicadores da força dessas cinematografias. No caso do Brasil, o aumento do market share dos filmes aqui produzidos era apontado como um objetivo do fomento público desde a criação da Agência Nacional do Cinema (Ancine), em 2001. No Plano de Diretrizes e Metas publicado em 2013, a Ancine vislumbrava, para 2020, uma participação de mercado de 32,7%. A realidade foi, no entanto, bem diferente. A média do market share das produções brasileiras foi, em média, de 13% nos anos 2010 e, após a pandemia, despencou para os níveis anteriores à criação da Ancine, ficando em 1,7% em 2021 e em 4,7% em 2022. Esse baixo percentual, é importante que se diga, não decorre da falta de produções, e sim com a dificuldade enfrentada pelos longas-metragens no mercado de exibição que, como se sabe, foi formatado para receber o cinema hollywoodiano e é altamente concentrado em meia dúzia de blockbusters. A partir da exposição desse cenário, conhecido por todos que se debruçam sobre o mercado de cinema brasileiro, este trabalho se propõe a analisar os momentos nos quais o País, na última década, ultrapassou o market share de 15% - teto de participação dos cinemas locais historicamente aceito como “razoável” pelas majors hollywoodianas. Isso aconteceu apenas em 2013, 2016 e 2020. Esses três anos tiveram a presença, no circuito exibidor, de um título comum: a franquia "Minha mãe é uma peça", cujas produções fizeram 4,5 milhões (2013), 8,8 milhões (2016) e 11,5 milhões (2020) de espectadores. A partir do estudo de caso da distribuição da franquia, este trabalho procurará refletir sobre a atuação do consórcio Downtown-Paris, absolutamente dominante no mercado de distribuição de filmes brasileiros; o papel da métrica do market share na estruturação das políticas públicas; e as possibilidades de enfrentamento da hegemonia hollywoodiana na era digital. Acredito que o olhar acadêmico sobre o percurso dos títulos "Minha mãe é uma peça", "Minha mãe é uma peça 2" e "Minha mãe é uma peça 3" contribuirá não apenas para o aprofundamento da questão do market share, como me permitirá roçar a problemática do lugar do “filme de público” na estruturação das políticas públicas para o audiovisual, compreendendo melhor, inclusive, o papel do Art. 3º da Lei do Audiovisual para as produções que têm, como objetivo principal, a venda de ingressos. Em um momento de reconfiguração do mercado de cinema, a partir da consolidação das plataformas de streaming, e de um novo desenho das políticas públicas – que passam a espelhar as políticas identitárias e democratizantes defendidas pelo governo Lula –, acredito ser salutar olhar para esse passado recente também sob a ótica do ideal da “conquista de mercado”, hoje abrigado sob o manto das “indústrias criativas”. |
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Bibliografia | AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. S.Paulo: Hucitec, 2013. |