ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A tecnostalgia em Os Jovens Baumann, de Bruna Carvalho Almeida |
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Autor | Mariana de Paula Costa |
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Resumo Expandido | Segundo Campopiano (2014, p.75), a technostalgia (palavra inglesa formada a partir de uma combinação de tech, algo relativo à tecnologia, e nostalgia) é definida como uma “lembrança afetuosa de, ou anseio por, uma tecnologia desatualizada”. Para o autor, essa prática ocorre quando um dispositivo midiático considerado obsoleto volta a ser utilizado ou quando simulacros de objetos analógicos são remediados através de dispositivos digitais. Neste trabalho investigamos de que forma podemos pensar a nostalgia dentro do aspecto técnico-estético e narrativo de um filme. Para tal, nos debruçamos sobre Os Jovens Baumann (2019), de Bruna Carvalho Almeida. O filme, que consistia em uma emulação de um registro doméstico de 25 anos atrás feito por uma família ficcional pertencente a uma certa elite econômica brasileira, reproduziu uma série de características do registro amador de eventos privados gravados por grupos de amigos ou de familiares. Ao observarmos as características do gênero found footage de horror, ao qual o filme encontra-se inserido, percebemos que o uso do VHS está intrinsecamente relacionado com as produções desse segmento com o intuito de promover uma sensação de autenticidade dos registros. Em Os Jovens Bauman, contudo, o uso desse equipamento não serviu apenas para tornar a ficção de horror mais verossímil, nem somente para ajudar a compor a dinâmica de contraposição de passado/analógico versus presente/digital. A utilização desse recurso é parte fundamental da construção da estética do filme, baseada nos erros de funcionamento e nos problemas de deterioração da mídia antiga, assim como suas características específicas. Tal estética reflete e potencializa a narrativa, visto que os ruídos do VHS, bem como, por vezes, suas próprias características cromáticas, traduzem visualmente a decadência e a ruína da elite econômica à qual pertencem os falsos registros familiares. Quando observamos a mise-en-scène do filme, percebemos que foi pensada de forma a reproduzir uma série de típicos modos de se portar diante da câmera característicos dos filmes de família de um período específico da história da mídia. Entendemos que talvez a maior manifestação nostálgica do filme encontra-se no fato de que os registros dos últimos momentos da fictícia família Baumann, ainda que sejam arquivos falsos de uma falsa família e de um mistério que nunca existiu, conseguem capturar, em certa medida, a essência dos filmes domésticos realizados nos anos 90, através da encenação e da simulação dos problemas e especificidades técnicas do VHS. Tal como defende Niemeyer (2014), acreditamos que a mídia pode funcionar como plataforma para expressar a nostalgia e, muitas vezes, é nostálgica por si mesma, seu próprio passado, suas estruturas e conteúdos. Os Jovens Baumann é um filme que não apenas foi gravado com filmadoras VHS, sem que isso suscite para algo além. Ao conhecer e compreender a linguagem construída historicamente por meio desse suporte, a diretora e sua equipe, conseguem refletir sobre a história dessa tecnologia de mídia, observando suas especificidades técnicas e estéticas, e até mesmo seus erros e problemas de deterioração. Assim, o filme é capaz de desencadear nos espectadores um sentimento de nostalgia dessa mídia. Ao realizarmos nossa análise, foi possível perceber que as várias maneiras que a tecnostalgia se traduz enquanto forma. Seja através da referência às características e recursos técnicos-estéticos particulares de um dispositivo de mídia obsoleto, como seu padrão cromático, suas especificidades sonoras e, até mesmo, seus problemas de deterioração. Seja por meio da simulação da própria maneira pela qual os indivíduos se relacionavam com essas tecnologias no momento em que foram lançadas e seu uso era rotineiro. Seja com a reapropriação de uma tecnologia de mídia ultrapassada para sua reutilização em outro meio de comunicação, no qual as potencialidades estéticas do dispositivo antigo são exploradas artisticamente. |
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Bibliografia | CAMPOPIANO, John. “Memory, temporality, & manifestations of our tech-nostalgia.” Preservation, Digital Technology & Culture, Vol. 43, No. 3, 2014, pp. 75-85. |