ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Canto da Ceilândia: canções e paisagem nos filmes de Adirley Queirós |
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Autor | Manoel Adriano Magalhães Neto |
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Resumo Expandido | Logo em seu primeiro curta-metragem, "Rap, o canto da Ceilândia" (2005), o cineasta Adirley Queirós apresenta uma abordagem musical associada a questões como territorialidade e paisagem sonora a partir de seu ponto de vista de agente social no contexto da região administrativa da Ceilândia, no Distrito Federal. Trabalho que foi consolidado nos anos seguintes em longa-metragens como "A cidade é uma só?" e "Branco sai, preto fica", que apresentam a paisagem sonora da região e a profunda ligação do diretor com o repertório do rap produzido por artistas locais, além do reprocessamento de jingles políticos como mantras indissociáveis do ambiente urbano. O trabalho objetiva analisar as canções e a paisagem sonora nos filmes de Adirley e como a construção musical e de som do cineasta articulam uma representação local própria, a partir de processos de percepção e de memória na elaboração do espaço de uma Ceilândia particular. A partir desta perspectiva de análise, é possível pensar as escolhas do artista de recursos sonoros que reforçam uma visão do território que transita entre a demarcação de aspectos estéticos e antropológicos (a música que representa o canto de um lugar) e a imersão em processos de multiterritorialidades e apropriação de linguagens para o debate a respeito do ambiente político em que a Ceilândia está inserida no contexto brasileiro e mundial. Em "A cidade é uma só?", por exemplo, Adirley utiliza o recurso de repetição presente nos jingles, que no filme servem de fator de integração entre as canções e a narrativa política, para recontar o processo de surgimento da Ceilândia por meio da Campanha de Erradicação de Invasões por parte do poder público, mas o diretor também retrabalha o recurso do tema musical publicitário como venda ao espectador de novas visões do mesmo espaço urbano, ressignificado-o com a possibilidade de atuação política dos moradores e da relação dos mesmos com a música produzida na comunidade. O cinema de Adirley Queirós trabalha a música e o som urbano da Ceilândia como parte fundamental da identidade do cineasta, que é indissociável da narrativa estabelecida por ele para expressar essa vivência ao público. Nas palavras do próprio Adirley, em entrevista concedida à Revista Negativo: "esses caras do rap são da minha geração, eles são meus amigos, e essa era a oportunidade que eu tinha para falar sobre eles. A gente se encontrava muito, a gente brigava muito, ia para os bailes... Eu circulava nesse ambiente e era muito amigo dos caras". O rap é o canto do cineasta que transita pela Ceilândia e pode experienciar as demais intervenções do que se escuta no lugar. A agregação na linguagem cinematográfica de Adirley entre o uso do rap, como canto e trilha, e a paisagem sonora apresenta-se como mote para uma discussão aprofundada de todo o conjunto de sons que constroem uma narrativa local. Ela também emerge como perspectiva de atuação política por meio de escolhas artísticas. A análise deste processo de integração abre ainda a possibilidade de debater o som no cinema como mais um elemento essencial de visibilidade social e representação política das periferias. |
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Bibliografia | GONÇALVES, Carlos Djalma. A construção do imaginário de periferia no cinema de Adirley Queirós. 2019. 244 f., il. Dissertação (Mestrado em Comunicação)—Universidade de Brasília, Brasília, 2019. |