ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Femme fatale e Fantasia: a franquia Blade Runner |
|
Autor | Luiza Cristina Lusvarghi |
|
Resumo Expandido | O objetivo dessa comunicação é estabelecer uma análise comparativa da femme fatale vista como símbolo da mulher moderna no ciclo noir clássico de Hollywood (HARVEY IN KAPLAN, 1988) com as personagens femininas “monstruosas” das narrativas distópicas contemporâneas de Ficção Especulativa e Fantasia, a partir de uma comparação entre Rachel, de Blade Runner (1982), de Ridley Scott, e Joi, de Blade Runner 2049 (2021), de Dennis Villeneuve. A femme fatale deixa de ser uma antagonista ou vilã partir de filmes do ciclo noir como Pacto de Sangue (Double Idemnity, 1944) e Fuga ao Passado (Out of the Past, 1947), saindo da condição passiva da pin up que está na tela apenas para deleite da plateia masculina (MULVEY, 1975) para ocupar o espaço da “mocinha” e da anti-heroína – o protagonista dos clássicos noir é invariavelmente masculino. No cinema de Ficção Especulativa e Fantasia é comum a trama se mesclar ao gênero policial, mas a tendência predominante é a transformação da femme fatale numa metonímia, que pode assumir tanto o papel da alienígena devoradora de homens quanto em Sob a pele (Under the skin, 2014), a ciborgue psicopata como em ex-Machina Instinto Artificial (2014), mas também a da heroína clássica que defende o planeta como Ripley, da franquia Alien (1979-2014), ou ainda ser a androide dócil, como Rachel, de Blade Runner (1982). As ciborgues surgem como artefatos eróticos, desumanizadas, como no holograma performado por Ana de Armas, a Joi, destinada ao entretenimento do mocinho trágico e solitário K (Ryan Gosling), de Blade Runner 2049 (2017), uma representação do pornô erótico na era virtual, vazio e sem gozo. Joi também representa o desdobramento atualizado de Rachel (Sean Young), a ciborgue da primeira versão de Blade Runner (1982), por quem se apaixona o policial Rick Deckard, interpretado por Harrison Ford. Essa primeira versão traz ainda a androide Pris, imortalizada por Darryl Hannah, e programada para matar, que parece ser a tendência atual da Femme fatale. “Agora a femme fatale é uma metonímia que viaja entre uma variedade de gêneros convocando a característica noir do filme para efeito atmosférico ou hermenêutico (STRAAYER, 1988) . Embora expressem conflitos morais e valores diferentes com relação ao papel das mulheres, todas elas exemplificam, segundo Conrad, o sentimento de escopofilia atribuído por Mulvey ao male gaze, mas não somente pela forma como são captadas em cena, mas pela sua própria natureza enquanto mercadoria. Em Blade Runner 2049 elas podem ser adquiridas em lojas. A representação feminina pode também incorrer no que Barbara Creed chama de feminino monstruoso, se pensarmos na rainha Borg (Alice Krige) de Star Trek: First Contact (1996), uma Femme fatale que seduz pelo poder do cérebro, pois pode interferir na mente humana, criando filhos que são ciborgues, colagens de diversas espécies. A parte mais interessante é que ela está apta literalmente a se reproduzir sem a intervenção do macho, algo que representa uma ameaça nessas alegorias sobre a mulher. |
|
Bibliografia | CREED, B. The monstrous feminine. Film, Feminism, Pyschoanalysis. London and New York: Routledge. 1993. |