ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Touzani e Meddour - um Cinema de Resistência |
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Autor | Fernanda Aguiar Carneiro Martins |
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Resumo Expandido | Um dos mais jovens cinemas no mundo, o Cinema Africano abrange uma admirável diversidade. Em meio a ela, proeminentes vozes femininas integram o Cinema do Magreb, o qual ao lado do Líbano constitui o local das mulheres cineastas árabes mais bem estabelecidas. “Poucas mulheres diretoras conseguiram se estabelecer no mundo árabe, e a obra daquelas que conseguiram permanece limitada. Diretoras de renome como Moufida Tlatli e Farida Benlyazid passaram à direção tarde, após uma carreira escrevendo roteiros de alguns dos melhores filmes árabes. O contraste é flagrante no Irã, onde a emergência de mulheres diretoras sob o regime religioso tem sido espetacular... Filmes recentes de mulheres diretoras sugerem que mulheres árabes seguirão seu exemplo” (GUGLER, 1995: 03). Cerca de trinta anos depois, eis o que se configura com o cinema da marroquina Maryam Touzani (Tânger, 1980-) e o da franco-argelina Mounia Meddour (Rússia, 1978), a cujos nomes podem ser aliados os da libanesa Jocelyne Saab (1948-2019) e da argelina Assia Djebar (1936-2015), dentre outros nomes. Jovens realizadoras (de apenas dois longas-metragens), Touzani e Meddour possuem formação universitária e iniciam suas carreiras realizando curtas documentários. Com Adam e Papicha, seus longas-metragens de estreia em 2019, interessa-nos estudar duas narrativas eminentemente femininas, inspiradas em acontecimentos e, assim sendo, trazendo um aporte documentário para o seio da ficção. A esse respeito, observa-se o interesse pelo tema da difícil condição feminina. “A competição pelo suporte estrangeiro é severa, e diretores sabem que alguns pontos são mais propícios que outros. Tal é o caso de denúncias da opressão das mulheres” (GUGLER, 1995: 04). Adam envolvendo a infância e a idade adulta e Papicha, a adolescência (o que explica o uso do termo do título), em ambos os filmes, o protagonismo feminino se exerce em meio a condições de vida totalmente adversas. Enquanto em Adam a luta de Samia (Nisrin Erradi) se dá unicamente por um espaço onde possa ter seu filho para logo então o encaminhar para adoção - tais são as restrições a uma criança de mãe solteira; em Papicha, o sonho de se tornar estilista da universitária Nedjima (Lyna Khoudri) surge contrariado em meio aos conflitos da guerra civil argelina nos anos 1990, período de repressão e de assassinatos praticados pelos extremistas islâmicos. Em meio ao jogo de olhares e de reflexos que se tece seja entre Samia (Nirin Erradi), Warda (Douae Belkhaouda) e Abla (Lubna Azabal), no filme marroquino, seja entre Nedjima (Lyna Khoudri), Wassila (Shirine Boutella) e as várias outras personagens, no filme argelino, cabe interrogar e analisar o conjunto de imagens criadas. Nesses dois filmes escritos e dirigidos por mulheres cineastas, eis o caso de estabelecimento de um olhar feminino, finalmente liberto da ideologia da visão fundada na diferença sexual, a qual expõe a mulher como imagem, espetáculo, objeto e locus de sexualidade? “Será que podemos imaginar a mulher numa posição dominante que seja qualitativamente diferente da forma masculina de domínio?” (Kaplan, 1995: 51). Essas e algumas outras indagações norteiam o presente estudo numa investigação acerca das imagens de mulheres, cujo aspecto irreverente e original conduz a um cinema de denúncia e de resistência, à medida que promove uma releitura de corpos e de afetos. |
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Bibliografia | GUGLER, Josef (org.). Ten Arab filmmakers – Political Dissent and Social Critique, Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, 2015. |