ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Rohmer e a tradição pictórica: diálogos entre pintura e O Raio Verde |
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Autor | Giovanni Alencar Comodo |
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Resumo Expandido | “O Raio Verde” (1986) é um ponto paradigmático na filmografia de Éric Rohmer (1920-2010). Conhecido por seu rigor e erudição desde seus tempos como crítico nos Cahiers du Cinéma e já estabelecido como realizador, Rohmer empreende ali um filme “amador tal como um principiante”, segundo ele mesmo: filma em 16mm, sem roteiro, com uma equipe mínima de profissionais praticamente inexperientes, de improviso por diversas locações no verão francês sem autorização prévia, imerso entre veranistas e turistas desavisados. Entretanto, o resultado final de seu filme demonstra um cineasta experiente em pleno domínio de suas ferramentas, com enquadramentos – realizados às pressas – que conseguem evocar uma história das imagens da pintura, especialmente o impressionismo francês do qual era admirador confesso. Atento aos lugares e pessoas das locações, Rohmer consegue capturar gestos e poses revisitando tradições pictóricas em seu filme dito “amador”: dos banhistas em Biarritz que parecem uma revisão de Cézanne ao verde do verão de Berthe Morisot (como em "Caça às borboletas") e também de Manet (nos polêmicos "As Andorinhas" e "O almoço sobre a relva"), passando inclusive pelo trompe l’oiel da mosca no frame como nas pinturas de vanitas. Pensador aguerrido sobre o poder e a independência da arte do cinema nos debates de meados do século XX, Rohmer sempre defendeu a capacidade única do cinema de capturar o movimento, o belo e o verdadeiro nos filmes, com grande herança de André Bazin. Sempre se colocou como um tradicionalista ao mesmo tempo em que defendia a modernidade do meio, procurando um diálogo com a tradição e estudo das outras artes e seus passados. Torna-se possível pensar em uma aproximação sua com pintores como Manet e o próprio Cézanne, paradigmáticos da modernidade em suas épocas. Desdobramento de minha pesquisa de mestrado sobre Rohmer e “O Raio Verde” recém-concluída centrada na Teoria de Cineastas e a presença do acaso em seu processo de criação, esta apresentação busca empreender um diálogo comparativo entre imagens do filme e alguns quadros como os mencionados acima, tentando também localizar o pensamento de Rohmer sobre a pintura e modernidade (presente em entrevistas e ensaios seus como “O Antigo e o novo” e “O Celuloide e o mármore”) com os dos pintores modernistas. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. Pode um filme ser um ato de teoria?, Revista Educação e Realidade, Porto Alegre, v.1, n. 33, p. 21-34, jan/jun, 2008. |