ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Dispositivos ficcionais e engajamento político no documentário Lavra |
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Autor | Bruno Saphira Ferreira Andrade |
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Resumo Expandido | O cinema brasileiro recente apresenta, em uma parte significativa das produções, formas variadas de entrelaçamento de mecanismos de composição fílmica que transitam do documental ao ficcional ou que, em sua maior parte, incorporam ao documental traços ficcionais como potencializadores da experiência fílmica. O volume e a diversidade de filmes, aliados a inserção e repercussão no campo, nos estimulam a olhar tal presença no contexto atual enquanto um fenômeno, cuja força aponta para a vivacidade de questões caras sobretudo ao cinema documentário. O filme Lavra (Lucas Bambozzi, 2021) traça uma rota interessante dos possíveis encontros entre ficção e documentário, usando um dispositivo ficcional como forma de criar um engajamento no real, de acessar personagens reais e de construção de um ato/percurso político diante de um contexto que desafia a experiência fílmica e transborda seus limites. Na obra, acompanhamos o percurso da personagem Camila, geografa brasileira residente nos Estados Unidos que volta ao Brasil buscando entender o contexto do crime ambiental, que resulta na tragédia também humanitária, da barragem do Fundão na cidade de Mariana e se esbarra, durante as filmagens, com o outro crime ambiental de maior proporção, que é o rompimento da barragem Córrego do Feijão em Brumadinho. O percurso da personagem, previamente concebido, se abre a múltiplas dimensões dos fatos abordados, os crimes ambientais e humanitários, tecendo um amplo e diversificado conjunto de relações que transitam entre a vivencia direta e particular dos habitantes das áreas atingidas e reflexões abrangentes, interconectando saberes diante da perplexidade que os crimes geram. O presente trabalho busca investigar os caminhos de expressividade cinematográfica que os elos com a ficção podem trazer ao cinema documentário e mais especificamente a formas de expressão politicamente engajadas e que se aliam a uma perspectiva decolonial do cinema brasileiro contemporâneo. Quais formas de ação e pensamento podem ser engendradas nessa experiência fílmica? Nos parece de antemão que estabelecer um dialogo entre o debate sobre as especificidades e potencialidades do cinema documentário, assim como pensadas por Jean Louis Comolli, Cesar Guimarães e Rubens Caixeta, com perspectivas decoloniais no cinema e na produção dos saberes, convocando um amplo e fundamental debate para ambos os campos, se configura como uma vereda fértil para a abordagem dessa obra. Ressalta-se que para as compreensões acerca do estabelecimento desses elos de ligação, o pensamento do filósofo Jacques Rancière sobre a indissociabilidade dos campos da estética e da politica são fundamentais para essa análise. |
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Bibliografia | ANDRADE, Catarina Amorim de Oliveira. ALVES, Álvaro Renan José de Brito. O cinema como cosmopoética do pensamento decolonial. In: LOGOS 55 VOL 27 N 03, p.80-96. 2020. |