ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A fase brasiliense do cinema de Vladimir Carvalho |
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Autor | André Lima Monfrini |
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Resumo Expandido | A presente comunicação analisa sumariamente três filmes do documentarista paraibano, radicado em Brasília, Vladimir Carvalho. São eles: os curtas Brasília segundo Feldman (1979) e Perseghini (1984), e o longa-metragem Conterrâneos Velhos de Guerra (1990-1991). Propomos que esses três filmes compõem a fase brasiliense na cinematografia do documentarista. Tomados em conjunto, e analisados em perspectiva comparada, encaminham um projeto de história e memória de Brasília que confronta a memória oficial e hegemônica a respeito da nova capital brasileira. Carvalho, por meio de imagens de arquivo e de depoimentos de candangos pioneiros, organiza uma narrativa popular que traz à tona episódios de violência e traumas coletivos que marcaram a experiência candanga em Brasília desde o período de construção da cidade (1956-1960). Brasília segundo Feldman é um filme de compilação - ou found footage - produzido a partir de imagens captadas em 1959 pelo designer norte-americano Eugene Feldman em visita aos canteiros de obra de Brasília. Carvalho projeta estas imagens para o artista plástico modernista Athos Bulcão e para o operário pioneiro de Brasília e militante do Partido Comunista, Luiz Perseghini. Os testemunhos de ambos a respeito da construção de Brasília, significativamente conflitantes, são adicionados como vozes over à banda sonora do filme. O curta Perseghini (1984) retoma o personagem militante, agora através do cinema de entrevista, com som direto sincronizado. Perseghini narra sua trajetória de vida ao mesmo tempo que recupera elementos de uma memória comunista gestada no decorrer da IV República (1946-1964). O personagem é, para os filmes da fase brasiliense, um representante legítimo da experiência candanga no que se refere à violência sofrida por trabalhadores no processo histórico que forjou a cidade. Conterrâneos velhos de guerra, por sua vez, conta com imagens captadas pelo cineasta ao longo de 18 anos (1970-1988). Neste filme, temos uma espécie de collected footage, situação em que a coleção de imagens foi registrada pelo próprio cineasta documentarista, fruto de um processo de observação continuada sobre a vida em Brasília ao longo dos anos 1970 e 1980, vigente sempre o regime militar brasileiro. No retrato produzido, encontramos tanto elementos da vida política brasileira como episódios da vida urbana de Brasília, como as remoções que originaram a cidade de Ceilândia, a atuação de movimentos populares e conflitos por acesso à terra. O resgate histórico de uma chacina de operários, ocorrida em 1959, está no centro do projeto crítico operado pelo cineasta e atravessa os três filmes, que mantêm entre si diversos pontos de contato formais e temáticos. Nossa apresentação pretende apresentar brevemente as questões fundamentais de cada uma destas três obras, além de desenhar um quadro comparativo formal e estilístico que ilumina, do ponto de vista histórico e estético, esta fase da obra de Vladimir Carvalho. Argumentamos que o cineasta confronta a memória hegemônica construída sobretudo por agentes ligados a circuitos do poder político e ao modernismo brasileiro. Estamos de acordo com a formulação sendo proposta pelo historiador Marcos Napolitano, segundo a qual haveria um longo modernismo, compreendido, grosso modo, entre 1920 e 1970. Brasília, neste enquadramento, pode ser considerada um ponto de alta intensidade deste projeto moderno brasileiro. As fissuras apontadas pelos filmes de Carvalho, que constatam arcaísmos e contradições no projeto político e urbanístico da cidade desde a sua gestação, oferecem um referencial para pensarmos sobretudo o encerramento do ciclo histórico do modernismo tal como ele se expressa no momento em que estes filmes foram produzidos. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Cia das Letras, 2003. |