ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Ponto de escuta e regimes da diegese: ambiguidades na percepção sonora |
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Autor | Leonardo Alvares Vidigal |
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Resumo Expandido | Ponto de escuta é um conceito-chave nos estudos de cinema. Esta comunicação se propõe a continuar o processo de investigação e interpelação da noção de ponto de escuta, o que foi desenvolvido por este autor em outras ocasiões neste encontro e também por meio de artigos publicados ao longo dos anos. Na última década, alguns autores e autoras também se ocuparam deste conceito com contribuições significativas, formando um corpus teórico mais sólido que precisa ser testado e colocado em diálogo com outros pesquisadores e pesquisadoras, e também com a produção contemporânea de cinema, séries e outras obras audiovisuais. Um destaque nas recentes contribuições sobre ponto de escuta é a combinação deste conceito com o que chamo de regimes de diegese, analisando sons que estejam associados internamente ao universo da história contada por meios audiovisuais (diegéticos) ou externamente (extradiegéticos), dentro e fora de quadro. Por exemplo, a categoria “som diegético fora de quadro interior”, trazida por Neumeyer, Buhler e Deemer, pode ser relacionada ao ponto de escuta subjetivo de alguém que não pode ser visto pelo espectador-ouvinte. Tais categorias podem trazer nuances e apresentar mais detalhes para a descrição e análise de obras audiovisuais. Sons extradiegéticos são geralmente pouco considerados quando estudamos o ponto de escuta. No entanto, se pensarmos no regime de diegese híbrido dos musicais, onde as personagens podem ouvir o canto de uma delas em cena, mas não sabemos se ouvem o acompanhamento instrumental extradiegético que caracteriza muitos exemplares deste gênero, o ponto de escuta pode ser problematizado. Assim, se alguns estão cantando e todos estão dançando, por exemplo, em “West Side Story”, a situação sugere que estão ouvindo a tudo, mas se apenas assistem, como em “The Broadway Melody”, ela sugere que não estão escutando o acompanhamento. Isso também acontece em filmes que não são musicais, mas apresentam momentos semelhantes (como em “Pepé le Moko”). Por isso podemos problematizar pontos de escuta ambíguos para quem está vendo e ouvindo esta cena no universo do filme e também para aqueles que a assistem na sala de cinema ou na sala de casa. Podemos também considerar documentários experimentais, ambíguos por natureza, onde a música extradiegética parece catalisar ações e diálogos entre pessoas e objetos filmados (como em “Scorpio Rising”). Outras situações que envolvem o ponto de escuta em documentários também precisam ser investigadas, como em “Crônica de um Verão”, por exemplo, onde um microfone atado a um gravador é escondido sob as roupas de uma das personagens, que faz um monólogo diegético enquanto perambula pelas ruas de Paris. Ou ainda nos documentários em animação, que trabalham com entrevistas ou se valem de reconstituições de fatos e ações, usando todos os recursos sonoros da ficção, como sonoplastia e outros. Isso nos transporta para outros autores, que procuram não situar o ponto de escuta apenas em relação à câmera, mas também em relação à percepção sonora dentro de quadro e também aos sons internos de personagens, como a respiração. Para tanto, precisamos levar em conta aspectos práticos da construção do ponto de escuta pela distribuição de microfones, principalmente aqueles atados ao corpo das personagens, além de gravadores portáteis que permitem separar radicalmente o ponto de escuta do ponto de vista filmado. Desde que Michel Chion e Rick Altman começaram a trabalhar com o conceito de ponto de escuta, houve um notável desenvolvimento tecnológico, que não será abordado em detalhes nessa comunicação, mas que também coloca problemas a serem explorados, por exemplo, podendo tornar o ponto de escuta espacial tão identificável quanto o subjetivo, situando um som em apenas um alto-falante. Estas são apenas algumas das perspectivas teóricas a serem abordadas nessa comunicação, procurando exemplos em filmes brasileiros contemporâneos, como “Marte Um”, “Fogaréu”, “Bacurau”, entre outros. |
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Bibliografia | Altman, Rick. Sound Space. In: Altman, Rick (org.). Sound Theory/Sound Practice. Nova Iorque: Routledge, 1992. |