ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O fio da memória sob a perspectiva do letramento racial crítico |
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Autor | Christiane Matos Batista |
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Resumo Expandido | Orientado por uma ética de afirmação de sujeitos, Eduardo Coutinho fez da atenção ao outro na condução de suas entrevistas uma marca fundamental dos seus filmes (LINS; MESQUITA, 2008). Entre outras coisas, tal conduta opta por deixar em evidência o diálogo entre diretor e entrevistado (COUTINHO, 1997), elemento determinante na relação com cada um dos personagens. Ao tratar do centenário da Abolição da Escravatura no Brasil em O fio da memória (1991), o cineasta costura depoimentos de pessoas negras de diferentes segmentos da sociedade, residentes no estado do Rio de Janeiro, apontando para marcas deixadas pela escravização tanto nas trajetórias singulares dos entrevistados como na história social do nosso país. Tendo como longa de estreia o aclamado Cabra marcado para morrer (1964-84), Coutinho construiu, ao longo de sua carreira, uma filmografia que conta com 28 títulos, entre filmes de ficção e documentários. O fio da memória é o segundo documentário de longa-metragem do diretor. O projeto foi idealizado pela Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj) e recebeu financiamento da Secretaria de Estado de Cultura. O filme é também uma Co-produção com a Television Española, S. A. (TVE, S.A.), com participação, como produtores associados, dos canais franceses Channel 4 e La Sept, da Embrafilme e das empresas do setor audiovisual Tropicolor Inc., E.C. Filmes e Cinefilmes. A estrutura intencionalmente aberta e fragmentada do filme (AVELLAR, 2013) tem como guia o legado deixado pelo personagem Gabriel Joaquim dos Santos: uma casa construída e decorada com materiais encontrados no lixo, a Casa da Flor, e alguns diários de assentamento escritos por ele. Filho de ex-escravizados, Gabriel é herdeiro de uma tradição africana de reinvenção dos significados (RODRIGUES, 1999). Uma tradição também identificada, nos últimos 30 anos, em filmes de realizadores negros tanto no cinema de ficção como no documentário (ARAÚJO, 2018). Partindo do compromisso com a transformação das condições que reproduzem ideias limitantes de raça e o racismo sob a perspectiva de uma educação libertadora - atenta, portanto, às propostas e às ações dos movimentos sociais (GLASS, 2012) -, este trabalho busca realizar uma análise do filme O fio da memória sob a perspectiva do letramento racial crítico, que entende raça como um construto social, histórico e discursivo, presente, assim como o racismo, na constituição das identidades sociais (FERREIRA, 2022). |
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Bibliografia | ARAÚJO, J. Zito. O tenso enegrecimento do cinema brasileiro nos últimos 30 anos. Cinémas d’Amérique latine, 26, 2018. |