ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Escrevivências audiovisuais: narrativas negras e periféricas no cinema |
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Autor | Luz Mariana Blet |
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Resumo Expandido | O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre a produção audiovisual de coletivos negros e periféricos e a importância do cinema independente como espaço de disputa por novas narrativas, de luta antirracista – estética e política, e construção de identidades afrodiaspóricas. A pesquisa é motivada por uma trajetória pessoal de estudos e experiências vividas ao longo da última década, abrangendo coletivismo, vivência em periferias, produção audiovisual e expressões culturais negras da diáspora. Em relação ao coletivismo periférico, esta trajetória iniciou em 2013, no Rio de Janeiro, mais especificamente na favela da Maré. Do encontro com outros jovens de diversos bairros da periferia do Rio de Janeiro, a partir de um curso de audiovisual periférico, surgiu o interesse na realização de ações de forma coletiva. Nasceu, assim, Crua – Coletivo Criativo de Rua, com objetivo atuar em periferias e locais marginalizados, realizando intervenções culturais nos territórios, colaborativamente com os atores locais, para proporcionar uma troca de saberes, afeto e valorização das identidades negras e periféricas. Essas intervenções utilizam-se de diversas linguagens artísticas, mas têm como foco o audiovisual. Em agosto de 2013, o Crua, juntamente com outros coletivos do Rio de Janeiro iniciaram residência no Hotel da Loucura (Instituto Psiquiátrico Nise da Silveira), pois o espaço era disponibilizado para ações artísticas orientadas para a saúde mental. Nesta residência o coletivo passou a realizar diversas ações como oficinas, exposições, apresentações de vídeo-artes e performances com o objetivo de fortalecer a identidade negra e refletir sobre a loucura. No Hotel da Loucura o Crua criou o Cinegrada, um cineclube de cinema negro, realizado quinzenalmente, com exibição de filmes negros periféricos e roda de conversa com os realizadores. Em 2016 o cineclube se transformou em um festival itinerante de cinema negro, percorrendo, em cada edição, mais de 15 favelas do Rio de Janeiro, com exibições de cinema, rodas de conversa e reflexões nos territórios. Além das ações de produção cultural e distribuição de audiovisual negro periférico o Crua também atua na produção audiovisual independente, com a produção de curtas e de um longa-metragem sobre os Quilombos da Costa Verde (região litorânea entre Rio de Janeiro e São Paulo). A representação midiática hegemônica do negro e dos territórios de periferia é, de modo geral, marcada pelos estereótipos e pela violência. O cinema é, neste sentido, não apenas uma prática social, mas um gerador de práticas, veículo de representações e modelos. Porém, da mesma forma que reproduz estereótipos, racismo e os interesses dominantes, o cinema também pode servir como forma de resistência. Neste contexto, emergem diversos coletivos que utilizam a linguagem audiovisual como ferramenta de expressão e disputa simbólica. Porém, neste ponto, é necessário pensar na polissemia destes sujeitos e territórios e, por conseqüência, nas produções audiovisuais como práticas atribuidoras de sentidos, como produções de subjetividades, não como uma auto-representação mas sim como diversas possibilidades narrativas de expressão do cotidiano. A partir das experiências com o Coletivo Crua e do contato com diversas produções audiovisuais negras de periferia, surgiu o interesse em realizar um estudo mais aprofundado sobre essas produções audiovisuais e sobre o que elas apresentam em comum. Tal interesse veio a culminar em uma pesquisa de doutorado em Antropologia Social na qual procuro abordar tais produções audiovisuais a partir do conceito de Escrevivências, proposto pela linguista e escritora Conceição Evaristo, ou seja, não como uma representação ou escrita centrada no indivíduo, mas como narrativas ficcionais que remetem a experiências afrodiaspóricas eminentemente coletivizadas. |
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Bibliografia | ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Cia das Letras, 2019. |