ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A centralidade da cultura e a produção audiovisual periférica |
|
Autor | Wilq Vicente |
|
Resumo Expandido | Ao longo dos anos 2000, principalmente nas cidades de Rio de Janeiro e de São Paulo, mas também em outros lugares do país e da América Latina, foi possível verificar o crescimento da produção de filmes e ações audiovisuais desenvolvidas em territórios periféricos. Dessa primeira década do milênio é possível destacar algumas pesquisas que registraram essa movimentação. Alvarenga (2004) realiza um recorte da prática do “vídeo comunitário”. Hamburger (2007) aborda a relação entre a apropriação dos “mecanismos de produção” e o rompimento da invisibilidade dos segmentos populares deste país e habitantes de bairros periféricos das grandes cidades. Cota (2008) analisa como as experiências de oficinas de cinema realizadas por projetos sociais geraram mobilização de jovens da periferia na criação de espaços de exibição na cidade de São Paulo. Stücker (2009) olha para as séries Cidade dos Homens (Rio de Janeiro, 2002-2005) e Antônia (São Paulo, 2006-2007) e debate o lugar simbólico que a periferia adquiriu no audiovisual e na indústria cultural. Zanetti (2010) examina como o “cinema da periferia” obteve certa projeção através da ampliação do circuito exibidor. Atrelada a essa produção cultural registrada em diversos estudos acadêmicos, também foi possível notar uma ampliação da diversificação de editais de seleção de projetos culturais desenvolvidos em territórios periféricos e por pessoas oriundas da periferia, cursos e oficinas de formação em audiovisual desenvolvidos por ONGs (principalmente aquelas com foco na juventude), o aprofundamento da ótica da diversidade cultural e da cidadania no âmbito das políticas públicas em diferentes esferas, específicas visões de governos em relação à dinâmica entre Estado, cultura e cidade, bem como a incorporação parcial de “talentos” da periferia pela indústria cultural, fenômenos que parecem dialogar diretamente com o contexto das cidades contemporâneas. De forma a fazer coexistir o crescimento de investimentos, o aumento do número de organizações e projetos, novas formas de atuação e articulação pautadas a partir da “centralidade da cultura” no cotidiano das camadas mais pobres da população. A produção cultural deste período surge fortemente calcada na ideia de “nossa realidade representada por nós mesmos”, em diálogo com outras expressões e linguagens artísticas que também expressam essa questão. É o caso de filmes e vídeos que são fruto de projetos apoiados por editais públicos, de coletivos e indivíduos formados em oficinas de ONGs, agora já fora do âmbito delas, ou mesmo produções independentes ou apoiadas por universidades. Em produções como Rap, o canto da Ceilândia (2005); Vaguei os livros e me sujei com a merda toda (2007); 2 meses e 23 minutos (2007); Julgamento (2008); A ilusão viaja de baú e a liberdade de bike (2008) e; Qual centro? (2010), identifica-se diferentes formas e estratégias de lidar com as pautas candentes, que expressam o repertório coletivo da década. Por isso, este tipo de audiovisual realizado nas periferias brasileiras, precisa ser colocado em diálogo com um debate mais amplo que envolva não apenas o cinema, mas também a cultura. Justamente porque essa produção emerge de um contexto de alargamento cultural, quase inédito nos últimos anos, o que impactou em propostas de filmes dos segmentos subalternos da população. O objetivo deste trabalho é compreender as transformações na cena da produção de audiovisual ligada às classes populares nas últimas décadas no país, tendo em vista mudanças nas formas organizativas, nos arranjos políticos sociais e nas narrativas e expressões diversas dessa produção. Essa cena do audiovisual nas periferias passou a apresentar novas narrativas, paisagens e corpos, seja quando olharmos para os espaços onde as práticas foram realizadas, seja na observação das perspectivas políticas e percepções de mundo que estes novos agentes expressaram através de suas produções culturais, em diferentes arranjos produtivos e localidades. |
|
Bibliografia | ALVARENGA, Clarisse. Vídeo e experimentação social: Um estudo sobre o vídeo comunitário contemporâneo no Brasil. 2004. Dissertação (Mestrado) – Programa em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, 2004. |