ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Imagens do olhar endividado: cinema e moeda no Brasil |
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Autor | Pedro Félix Pereira Moura |
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Resumo Expandido | “O dinheiro é o avesso de todas as imagens que o cinema mostra e monta”. A frase escrita por Gilles Deleuze no segundo volume de seu díptico sobre o cinema permite alavancar uma série de discussões acerca da relação entre filme e moeda. O vínculo entre cinema e finanças constitui uma problemática que se expande para além das análises de viés quantitativo do desempenho mercadológico dos filmes. A partir da sentença do filósofo francês, uma série de pensadores se mobiliza no intuito de repercutir os sentidos do elo entre cinema e dinheiro. Peter Szendy, por exemplo, examina as relações simbólicas e de troca entre signos imagéticos e pecuniários a partir de uma lógica que o autor denomina de “iconomia”. Bruno Cava e Giuseppe Cocco revisitam a provocação deleuziana lançando a luz do pensamento sobre a natureza fiduciária atual da moeda, aprofundando a ideia de imagem-dinheiro, uma instância da imagem-tempo que é atravessada pelo “complô do dinheiro” e está permanentemente sujeita à defasagem que é comum no modelo de crédito e débito. A partir do debate introduzido, a presente pesquisa reflete sobre a filmografia brasileira recente pelo prisma das relações que esta estabelece com as dinâmicas financeiras próprias da realidade das produções do país. Dentro do universo de abordagem, o interesse analítico passa pelas maneiras através das quais o cinema permite apreender sua face financeirizada. Também estão no espectro da proposta questões que dizem respeito à natureza das ferramentas de financiamento dos filmes (notadamente os editais públicos e leis de incentivo), bem como o atravessamento entre as condições de viabilização financeira e o conteúdo das obras. Para compor a discussão, este trabalho se vale de títulos recentes da cinematografia nacional, principalmente curtas-metragens de gênero híbrido, realizados dentro de uma lógica de produção que foge ao paradigma industrial audiovisual tradicional. Nos interessa olhar para esse jovem cinema e buscar pistas que apontam para as operações monetárias que os atravessam, os indícios de inquietação contábil nos processos de realização e as soluções estéticas que fazem o filme “encaixar” no orçamento e/ou tornar visível os impasses de viabilização orçamentária. Um escopo ao qual essa pesquisa destina importante dedicação é o da compreensão das modalidades de moeda que o cinema brasileiro vem cunhando ao longo de sua história. Vale aqui ressaltar a noção de “Moeda Viva”, concebida inicialmente por Pierre Klossowski, que envereda pelo uso dos corpos como instrumento de cambialidade, circulação e conversibilidade. A moeda viva, inserida no âmbito da biopolítica, potencializa a dimensão afetiva da economia das trocas e perturba a mensuração objetiva dos valores (CAVA e COCCO, 2020). No cinema, as moedas vivas produzem muito mais do que imagens precificáveis. Por meio da fabricação de novas redes são criados novos circuitos de conversibilidade, cambialidade e abundância no audiovisual. A circulação de “formas-de-vida pecuniárias” revela novas nuances da criação a partir de tecnologias acessíveis, da concepção de novos fazeres cinematográficos não hegemônicos e da construção de processos e estéticas singulares cujas configurações produtivas são fundadas na confiança. |
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Bibliografia | CAVA, Bruno; COCCO, Giuseppe. A vida da moeda: crédito, imagens e confiança. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2020 |