ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Animação como metalinguagem no cinema nacional recente |
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Autor | Samuel Baptista Mariani |
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Resumo Expandido | A Cidade dos Piratas (2018), de Otto Guerra, e Bob Cuspe: Nós não gostamos de gente (2021), de Cesar Cabral, são produções interdisciplinares que celebram relações plásticas intrínsecas com o desenho dos seus autores, pois são filmes baseados nas obras dos quadrinistas brasileiros Laerte Coutinho e Arnaldo Angeli Filho, respectivamente. Para além de pertencerem ao mesmo ecossistema editorial, ambos os filmes costuram-se pelas vias dos recursos da auto-paródia, da subversão da espectatorialidade e da metalinguagem e, relacionando-os aos estudos de teoria da comédia no cinema, que denomina esses elementos como caros ao humor cinematográfico, a pesquisa se propõe a investigar o trânsito dessas produções animadas pelo gênero da autoconsciência, possibilitando a sua inserção em uma rede de relações geradora de novos sentidos pela chave da crítica e da autoralidade. Assim como Laerte e Angeli deixam de desenhar (ou recriar) suas personagens que não acompanham a transformação de seus autores, esse mesmo processo acaba por desencadear crises de identidade que vão se repercutir na impossibilidade cômica da existência dos filmes em análise. A articulação de elementos críticos e a apropriação dos mesmos no interior da obra acabam por criar um estado de crise narrativa, que vai representar tanto os cartunistas diante do efeito do tempo sobre suas obras, quanto os cineastas, impedidos de fazer cinema por efeito subsequente. Esse estado, além de ser representado tematicamente no interior diegético das obras e ser essencial para sua próprias análise, é ainda, em grande esfera, peça chave para definir "os lugares da crítica na cultura midiática", segundo análise de Soares e Silva a partir da definição de Didi-Huberman "de 'análise crítica', de reflexividade negativa, de intimação" (SOARES, SILVA, 2016) Com base nessas referências, o trabalho buscou vínculo com os estudos que avaliam e organizam as noções de espectatorialidade e desenvolvimento social do olhar na linha do que Jonathan Crary propõe em Técnicas do Observador (DATA), além de se propor à revisitação de teorias formadoras na área do cinema sob o amparo de olhares menos hegemônicos, como os que foram veiculados através da ótica da animação, entre eles Karen Beckman, em Animating Film Theory, e Paul Wells, em suas contribuições para publicações sobre teoria cinematográfica e da comédia no cinema. Valorizando a importância teórica do humor como encontrado em Comedy/Cinema/Theory de Andrew Horton, a pesquisa desdobra-se sobre a importância da reflexividade para esse mesmo cinema e como o gênero cômico seria o grande responsável pela formatação auto-consciente do meio. O trabalho, assim, também traça caminhos para pensar a reflexividade como elemento intrínseco ao gênero cinematográfico da comédia, equacionando, principalmente, os jogos de referências e o "estado de ironia conspiratória" com o espectador. (HORTON, 1991). Ainda, na perspectiva de investigação desses elementos sob a luz da crítica midiática que articula implicações relevantes da cultura audiovisual sobre o objeto de estudo - e entende-se aqui "cultura audiovisual" dentro de uma perspectiva interdisciplinar (RODOWICK, 1994) - o estudo sistemático também considera a participação do autor desta pesquisa no meio em que investiga, tendo, por exemplo, atuado por 4 anos na assistência de direção e montagem do longa-metragem proposto como objeto de pesquisa, Bob Cuspe: Nós não gostamos de gente. Sob essas perspectivas, espera-se que a partir de objetos empíricos específicos o estudo contemple reflexões teóricas de análise e crítica, e suas ramificações interdisciplinares, gerando significativo impacto sobre temas amplos que discutem, por exemplo, a política das imagens, a reflexividade do humor e a influência da animação sobre e na cultura audiovisual. |
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Bibliografia | BECKMAN, Karen (Org.). Animating Film Theory. Furham e Londres: Duke University Press, 2014. |