ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Inventar Cenas- experiência de curadoria da Mostra Cine Caratapa |
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Autor | Rúbia Mércia de O.Medeiros |
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Resumo Expandido | A Mostra Cine Caratapa propõe uma deriva pelo cinema de mulheres cis, trans, travestis, pessoas não-binárias e trans-masculinas, atravessando questões estética, narrativas, política, subjetiva, representativa e relacional. A proposta da curadoria da mostra foi de promover uma reflexão sobre modos de filmar, gestos e temas que compõem e motivam essas realizações, buscando a singularidade de cada obra, seus contextos de produção e os universos que revelam. Nós, enquanto parte do coletivo Caratapa assinamos a curadoria e idealização da Mostra, que teve em 2018 seus primeiros esboços de projeto e apenas em 2023,podemos efetivar a mostra como uma comunidade de mulheres que compunha a equipe da Mostra. Essa urgência em falar destes coletivos de mulheres nos apresentou um leque de filmes que nos permitiu desenhar uma curadoria em diálogo com os filmes e realizadoras que estavam a frente das funções. O que podem esses coletivos de realizadoras que estão tentando constantemente legitimar a escritura de seus filmes na história e em suas próprias trajetórias? Pretendemos através deste trabalho discutir e apresentar a experiência da Mostra enquanto, curadoria, ação de formação de plateia e espaço de reflexão e reconhecimento das diferentes posições e contribuições das mulheres na feitura fílmica, para além unicamente da direção. No intuito de discutir não apenas a funções do cinema, mas também como estas podem mobilizar cenas, telas e demarcar territórios de criação e invenções. A mostra surge do desejo de falar de filmes que nos atravessam, que falam de corpas, de suas histórias e narrativas que desejamos assistir nas telas do cinema e do mundo. Com um recorte temporal e territorial, Cine Caratapa convidou filmes realizados no ano de 2019 e 2023. Abrir espaço-tempo para refletir, conhecer e se reconhecer em espaços de cinema e audiovisual, na intenção de demarcar e mapear funções no cinema que historicamente não foram ocupadas de forma numericamente justa por estas corpas. Segundo dados da Ancine, em 2016, 75,4% dos longas-metragens nacionais lançados comercialmente foram dirigidos por homens brancos cisgênero. Apenas 17% dos filmes tiveram à frente da realização mulheres, mesmo em um país onde a maioria da população (51%) é feminina. Em outros setores do cinema, essa realidade se repete. A participação feminina na direção de fotografia, por exemplo, é de apenas 8%. Na produção executiva, 41%. No roteiro, somente 21%. Diante desse cenário, na frente e atrás das telas, se faz de extrema importância levantar questões acerca da sub-representação feminina no cinema brasileiro. É necessário lançar um olhar mais alongado sobre a disparidade dentro da produção audiovisual brasileira, que apresenta um ambiente extremamente masculinizado por diversos anos, e ainda mantém por muitas vezes um olhar masculino cristalizado nos modos de fazer filme. A questão se torna por vezes um tanto delicada, pois questionar esses números é na verdade questionar a construção de uma ausência. Esse tipo de desigualdade de gênero se dá através de algo muito mais abstrato do que relatos sobre assédios, por exemplo. Ele raramente é explícito, pois está presente em algo que não vemos. As estatísticas apontam a ausência de maior diversidade de gênero, classes e raças nos cargos de liderança em sets de filmagem — não por sua inexistência, mas por um apagamento histórico-social. A Mostra trouxe 14 filmes, as sessões tiveram em seu desenho curatorial uma relação de aproximação e afeto, e puderam proporcionar debates e conversas acerca de determinadas funções do cinema desde a perspectiva das mulheres ali presentes , na perspectiva de transbordar representações antes fixadas, no intuito de questionar padrões hegemônicos de constituição de cinema e cena. Ocupar as telas e os sets de filmagens, fazer desse espaço um gesto múltiplo e político. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Carol. “Contra a velha cinefilia: uma perspectiva feminista de filiação ao cinema.” (Disponível em: https://foradequadro.com/2017/09/19/contra-a-velha cinefilia-umaperspectiva-feminista-de-filiação-ao-cinema/.) |