ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Darwin, um transformista entre o sucesso e o preconceito nos anos 1920 |
|
Autor | Sancler Ebert |
|
Resumo Expandido | Nesta comunicação vamos contrapor a trajetória de sucesso do transformista Darwin pelos cineteatros do Rio de Janeiro com a forma preconceituosa que o artista foi retratado no seu requerimento de naturalização como brasileiro em 1924, disponibilizado no Sistema de Informações do Arquivo Nacional. Darwin, o imitador do belo sexo, se apresentou em dezenas de cineteatros do Rio de Janeiro entre 1914 e 1933, além de ter levado seu espetáculo para diversos estados do Brasil nesse período. No entanto, seu auge no país se deu na década de 1920, pois entre 1922 e 1924, o transformista performou centenas de vezes nas salas de cinema, chegando a ficar dois meses em apenas um estabelecimento, o Cineteatro Brasil, da Tijuca. Foi também nesta década que o artista foi convidado a participar da comédia “Augusto Annibal quer casar”, do diretor Luiz de Barros, em 1923. No filme, cujas cópias são consideradas perdidas, Darwin aparece como ele mesmo e é contratado por um grupo de mulheres que quer dar uma lição no protagonista do filme fazendo-o casar-se com o transformista. Se por um lado, o imitador tem provável pouco tempo de tela, por outro, seu nome foi destaque na divulgação do filme, chegando a ser utilizado em uma notícia em tom de fofoca para promover a fita. Ainda que soem exageradas, as notas dos periódicos que reforçavam o sucesso do artista não mentiam, uma vez que, podemos inferir que o êxito do transformista era verdadeiro pelo seu tempo de permanência em cartaz, pela presença no filme de Barros e também pela utilização da sua imagem na capa de partituras de músicas do seu repertório. Os periódicos relatavam que o público masculino e feminino lotava os cineteatros para assistir Darwin cantar em diferentes línguas, exibir figurinos de luxo e principalmente, imitar diferentes tipos de mulheres. Mas toda essa fama, tão repetida pela mídia, impedia o transformista de sofrer preconceito? Se não temos registros disso em relação ao público, não podemos dizer o mesmo em relação às instituições. O requerimento de naturalização como brasileiro feito pelo artista demonstra que não havia sucesso que blindasse um transformista do preconceito. Para solicitar a naturalização no Brasil o artista anexou ao pedido declarações de varas criminais do Rio de Janeiro atestando sua boa conduta e relatos dos proprietários dos cineteatros onde trabalhou como prova de sua idoneidade moral. No testemunho em próprio punho, Augusto Freitas Lopes Gomes, da Empresa Rialto Limitada, atesta que Darwin “demonstrou ser um cavalheiro de bons costumes” (p. 17). Mesmo com várias declarações positivas, a carta do Chefe de Polícia Marechal Manoel Lopes Carneiro da Fontoura ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores, João Luiz Alves, tem maior peso e indica pelo indeferimento do pedido, que é acatado. Na carta, Fontoura faz um relato de informações investigadas sobre o artista e o acusa de ser homossexual e usuário de drogas e de utilizar outro nome e nacionalidade no livro de registros do hotel onde vivia. O Chefe de Polícia ainda debocha dos atestados anexados ao processo. De acordo com Assunção Filho (2014), Carneiro era um dos auxiliares mais próximos do presidente Arthur Bernardes no setor de repressão, dada a utilização da polícia como controle social. Ainda no processo encontra-se um ofício de um diretor de seção, de nome ainda não identificado, que informa estar de acordo com o indeferimento do pedido de naturalização e declara que Darwin seria um “indivíduo de maus costumes, e que é um adventício, um forasteiro” (p. 4). Com a contraposição dos dados sobre o sucesso de Darwin e o preconceito que o artista cuir sofreu das instituições iremos resgatar a história de um transformista que fez sucesso no início do Século XX e foi um dos primeiros a participar de um filme brasileiro e discutir como se tensionavam as questões de gênero e sexualidade no Rio de Janeiro da década de 1920. |
|
Bibliografia | ASSUNÇÃO FILHO, Francisco Moacir. 1924 – Delenda São Paulo: a cidade e a população vítimas das armas de guerra e das disputas políticas. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014. |