ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A experiência do cinema Kayapó tecendo uma nova cena estético-política |
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Autor | Angela Nelly dos Santos Gomes |
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Resumo Expandido | Apresento com este trabalho uma reflexão acerca da experiência de cinema dos cineastas do povo Mebêngôkre-Kayapó do Pará, que se organizam hoje no Coletivo Beture, no sentido de olhar suas obras e seu fazer cinematográfico como um conjunto, um todo que age para além da visualidade como figuração de singularidades socioculturais, como operadores para a construção de uma “cena estético-política” que questiona a ordem dominante (Rancière, 2009, 2012, 2021a; 2021b;), visto que o cinema e a imagem desvelam uma perspectiva outra sobre si, os povos originários e sobre a própria Amazônia. O povo Mebêngôkre-Kayapó é pioneiro no uso das imagens, do cinema e das tecnologias de comunicação como aliado na reivindicação de direitos, sendo um dos primeiros povos da Amazônia a fazer “uso político” do cinema e das imagens ainda na década de 1980 (TURNER 1993). Hoje uma nova geração de cineastas se organiza para se fortalecer e estabelecer como realizadores, sujeitos e protagonistas de suas próprias histórias e narrativas. Mas não dá para situar esse cinema na Amazônia sem considerar a ferida colonial (MIGNOLO, 2005) que afeta a formação socioeconômica e histórica da região e seus habitantes. A despeito de viverem sob intensa pressão sobre seu território e modo de vida numa das regiões mais ameaçadas do país, o sul do Pará, parte de uma região da Amazônia conhecida como “cinturão do fogo” exatamente por estar na linha da devastação e destruição resultante de atividades de grileiros, posseiros, madeireiros e garimpeiros, os cineastas Mebêngôkre-Kayapó vêm utilizando a imagem cinematográfica para forjar novas percepções de si, refazer conexões com o território, modo de vida e saberes, para si e para a sociedade não indígena. E com essa “aparição” instauram outros modos de visibilidade, que em última instância é também uma forma de garantia de sua r/existência. A pluralidade de seus filmes, entre os quais os “filmes rituais”, denotam a apropriação do cinema como lugar de escuta, deferência e instauração desse outro modo de visibilidade, no qual as imagens trabalham como operadoras na construção de subjetividades, de desconstrução de olhares e estereótipos que lhes são constantemente impostos por todo um horizonte sócio-simbólico atravessado por colonialismos e neocolonialismos que os atinge enquanto povos originários e enquanto pertencentes a esta região. Assim, pelo cinema os Kayapó tomam parte e organizam suas próprias formas de aparição, que age na descolonização de um olhar atravessado historicamente pelas diversas formas de opressões e discursividades coloniais que os atinge como povos originários da Amazônia. |
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Bibliografia | CASTRO, Edna (org.). Pensamento Crítico Latino-Americano. São Paulo: Annablume e Clacso. 2019. |