ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | As partilhas sensíveis de Temporada: roteiro, diário e filme |
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Autor | Roberto Ribeiro Miranda Cotta |
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Resumo Expandido | No cinema brasileiro, não é habitual a publicação de reflexões sobre o processo de realização de filmes, nem mesmo de seus roteiros. Em geral, relatos sobre a feitura de uma obra são partilhados apenas em entrevistas veiculadas à época de seu lançamento, quase sempre mediadas por um jornalista ou crítico de cinema que direciona a abordagem desejada. Portanto, Roteiro e diário de produção de um filme chamado Temporada (2021), forjado pelo cineasta André Novais Oliveira enquanto criava seu longa-metragem, surge como um trabalho capaz de encorpar os estudos sobre o roteiro e a direção cinematográfica no país. Através de relatos acerca do percurso de criação de Temporada (2018), premiado como melhor filme no 51º Festival de Brasília, o diretor apresenta a diversidade de estratégias, angústias, interesses, partilhas e desvios que rondam o desenvolvimento de uma obra cinematográfica, da pré-produção à busca pela estreia em um festival de cinema. Dotada de um tom pessoal, a escrita oferece condições para que outros profissionais se identifiquem com as experiências discorridas. Além disso, o diário e o roteiro podem contribuir com a formação teórica e prática no campo audiovisual. Este artigo analisa a contribuição de experiências cotidianas no processo criativo do filme, com foco em situações relatadas no diário de produção ressignificadas pela narrativa. A hipótese é que as decisões tomadas por André Novais Oliveira são constituídas por formas de atravessamento diversas, seja por meio da absorção de referências audiovisuais ou pela partilha de vida e trabalho com outros membros da equipe. Portanto, tais fatores podem corroborar a tentativa de adequação às condições de execução do filme, assim como demonstram que a escrita do roteiro se alinha às possibilidades estéticas e logísticas. A metodologia segue uma abordagem qualitativa, baseando-se na análise descritiva de determinados relatos processuais de André Novais Oliveira (2021), em comparação com o roteiro e o longa-metragem desenvolvidos pelo cineasta. Para auxiliar este estudo, o quadro teórico é composto pelo conceito de partilha do sensível (RANCIÈRE, 2005), que busca associar as políticas do cotidiano às práticas estéticas da arte, e pela ideia de cinema de invenção (FERREIRA, 2013), cuja qual se compreende o legado de uma tradição do cinema brasileiro que propõe experimentações narrativas e estéticas diante de limitações políticas e orçamentárias. Ademais, também colaboram com a pesquisa a poética do roteiro analisada por Ana Johann (2015), a complexidade processual de criação em equipe discutida por Cecília Almeida Salles (2016) e Lázaro Ramos (2022) e as experiências relatadas por diretores de cinema em Laurent Tirard (Org., 2006). |
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Bibliografia | FERREIRA, Jairo. Cinema de invenção. 3ed. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2016. |