ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Diálogos entre Camille Billops e Yvonne Rainer |
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Autor | Carla Italiano |
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Resumo Expandido | Início da década de 1990, costa Leste dos Estados Unidos. Cenário que testemunhou uma presença expressiva de realizadoras que se colocaram, a um só tempo, à frente e atrás das câmeras, empregando modos de escritas de si em seus filmes. Essas cineastas transformaram seus corpos e vivências em matéria fílmica a partir de um compromisso autobiográfico de viés documental, utilizando procedimentos que conectam esses trabalhos a práticas do cinema experimental. Em suas obras, elas elaboraram uma subjetividade que é tanto criadora quanto objeto do próprio filme, com a inscrição de um “eu” passível de se tornar político, histórico. Os filmes que derivam dessa dupla incidência, quando alinhados a uma forma crítica, são capazes de desestabilizar os modos de produção e linguagens dominantes, propondo modos emancipatórios de agência feminina no cinema e fora dele. É notável uma maior presença de mulheres no universo do cinema experimental nos EUA. Alguns dos fatores para isso apontam para a confluência entre uma preocupação das tradições de vanguarda com a auto-expressão pessoal e uma atenção propriamente feminista à esfera privada (BUTLER, 2005); e a liberdade para investir em alternativas formais condizentes com as posturas feministas ensejadas a nível temático. Partindo desse contexto, esta comunicação busca estabelecer diálogos entre duas dessas cineastas: Camille Billops e Yvonne Rainer. Realizadoras dotadas de “posicionalidades” distintas (ALCOFF, 1988), o que resulta em modos singulares de estar no mundo, e de construir pontes entre o pessoal e o coletivo, em cada trabalho. Em mais de quatro décadas, Camille Billops atuou como escultora, atriz, escritora, fotógrafa e cineasta. Junto a James Hatch, co-diretor dos seis filmes do casal, eles se tornaram importantes arqueólogos da cultura e das artes negras nos Estados Unidos. No cinema, Billops estendeu o gesto de preservação de memória e fundação de História afro-americanas para a sua própria família, tomando-a como núcleo irradiador de uma investigação acerca da complexidade das existências negras, particularmente feminina negra, naquele contexto. Algo presente em “Procurando Christa” (1991), aqui analisado. A obra parte do reencontro de Billops com a filha que ela entregou para adoção quando esta tinha quatro anos. Nesse documentário experimental permeado por entrevistas, notadamente com gerações de mulheres dessa família, são mobilizadas estratégias vindas do teatro, da música e da performance, postas em relação a um rico arquivo de imagens, resultando em um filme heterogêneo que assume as perspectivas divergentes sobre essa história. Já Yvonne Rainer possuía uma trajetória consolidada como coreógrafa antes de iniciar na direção em cinema nos anos 1970. Seus filmes têm uma marcada radicalidade formal, tomando as presenças femininas em cena como uma elaboração sensorial e discursiva. “Privilégio” (1990) é seu sexto longa-metragem, feito na esteira do "feminismo da diferença" que emergia nos anos 1980 (COSTA; ÁVILA, 2005), com foco nos eixos de poder relativos na sociedade estadunidense; sobretudo raciais, de classe social, idade e gênero. Ele tem como mote a entrada da realizadora na menopausa, abrindo o filme para vários regimes de enunciação: de entrevistas com outras mulheres no processo do climatério à retomada de filmes de arquivos médicos, passando ainda por uma narrativa ficcional de um “filme dentro do filme” centrada no encontro entre duas personagens. Assim, esta comunicação visa estabelecer relações entre as duas obras, “Privilégio” e “Procurando Christa”, a partir de suas estéticas feministas. A análise volta-se para dois pontos: aproximar as suas propostas de experimentação com os sons e as imagens a partir do diálogo entre o cinema e as outras artes; e interpelar como cada filme elabora as diferenças entre mulheres - entre gerações de mulheres negras em Billops, e das diferenças raciais (branca, negra e latina) nas representações femininas do longa de Rainer. |
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Bibliografia | ALCOFF, Linda. “Cultural Feminism versus Poststructuralism: The Identity Crisis in Feminist Theory”. Signs, v. 13, n. 3, 1988. |