ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A experiência palestina e a ficção científica de Larissa Sansour |
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Autor | Jamer Guterres de Mello |
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Resumo Expandido | Este trabalho dá sequência a uma pesquisa de maior fôlego apresentada no último encontro da Socine, quando expus os resultados iniciais de uma investigação sobre as relações entre arquivo, passado e futuro a partir de determinados procedimentos adotados pelo realizador palestino Kamal Aljafari. O cineasta utiliza imagens já existentes para restaurar uma memória em constante apagamento, sobretudo ao recriar um arquivo imagético de Jaffa, antiga cidade palestina, a partir de um possível imaginário futuro (HOCHBERG, 2021). Interessa a esta pesquisa, particularmente, pensar de que forma os aspectos históricos, políticos e culturais da Palestina são representados a partir de experiências temporais desestruturadas (SAID, 1999) com base em distopias no presente. No território palestino, parece haver uma impossibilidade de viver o presente sem remeter a um só tempo a um passado fraturado e a um futuro inviabilizado (AMORA, 2022). Nascida em Jerusalém e criada em Belém, Larissa Sansour é uma artista atualmente radicada em Londres que trabalha com cinema, fotografia e videoinstalação. Com referências a diferentes aspectos da cultura pop, sobretudo o cinema de horror, os quadrinhos e a ficção científica, sua obra é um múltiplo diálogo político sobre a complexidade da vida na Palestina. No entanto, ao criar universos ficcionais paralelos e ao utilizar a ironia como principal recurso discursivo, os esquemas relacionais adotados pela artista diferem radicalmente da maior parte das narrativas sobre o Oriente Médio. A obra “Nation Estate” (Larissa Sansour, 2012) discute, entre outras questões, a impossibilidade de expansão horizontal da Palestina, constantemente impedida pela ocupação israelense. Sansour apresenta a dissolução do território palestino e sua (re)construção no interior de um arranha-céu semelhante a um shopping center ou um centro cultural. Trata-se de uma alusão a Rawabi, a primeira cidade palestina planejada, um conglomerado de prédios de tecnologia inteligente destinados a servir de moradia para palestinos de alto poder aquisitivo. O futuro da Palestina, ou melhor, nossas “ideias ambiciosas” (SANSOUR, 2015), como Larissa Sansour se refere à comum “sensação eterna de prenúncio de estado, independência e fim da ocupação” (SANSOUR, 2015), mesmo que algum dia se torne realidade, provavelmente acontecerá conforme imaginado e planejado pelo Estado de Israel (QUE, 2018). Neste trabalho, procuro investigar de que forma a ficção científica, enquanto gênero cinematográfico que hegemonicamente está vinculado a um conjunto de imagens estilizadas, a uma noção de futurismo estéril e a uma produção de alto custo (SANSOUR, 2015), pode contribuir com engajamentos que se propõem a expor o fracasso da fantasia colonial israelense. Segundo Larissa Sansour (2015), a ficção científica permite um tipo específico de enquadramento nostálgico aos temas por ela abordados, uma vez que a noção de futuro tende a se expressar quase que invariavelmente como um padrão ou um clichê ao mesmo tempo em que parece ser visionária. No caso da Palestina, o futuro inviabilizado – ou muitas vezes inalcançável ou inimaginável – há muito tempo se tornou tão repetitivo que a estranha mistura de nostalgia e realização que o gênero de ficção científica frequentemente incorpora (SANSOUR, 2015) pode funcionar como uma estética de resistência ao trazer à tona estratégias contra-hegemônicas que possibilitam novos agenciamentos políticos da experiência palestina. |
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Bibliografia | AMORA, Badra. Quando é a Palestina? O tempo palestino através da ficção científica de Larissa Sansour. Dissertação, PPGCOM-UFF, Niterói, 2022. |